Policiais admitem que contingente destacado para conter atos golpistas era insuficiente
Major que comandou policiamento na Esplanada ficou surpreso com atribuição, porque só tinha atuado em 'manifestações pequenas'
Policiais que participaram do esquema de segurança do 8 de janeiro relataram, em depoimentos à Polícia Federal (PF), falhas na inteligência e no preparo do efetivo que atuou na contenção dos atos golpistas. O coronel Jorge Eduardo Naime, que era chefe do departamento operacional da Polícia Militar, citou um "apagão total da inteligência". Já o major Flávio Silvestre de Alencar, que comandava os agentes que atuavam no momento do ato, afirmou que o número de policiais "não era o suficiente" para conter todos os manifestantes.
Preso na terça-feira, o coronel Naime prestou depoimento à Polícia Federal no mesmo dia e afirmou considerar que "houve um apagão total da inteligência" e que "a PM não deve ter recebido as informações que haveria uma manifestação daquele tamanho". Naime estava de folga no 8 de janeiro, devido a uma "dispensa recompensa", mas foi para a Esplanada dos Ministérios após o ataque às sedes dos Três Poderes.
Seu substituto no departamento foi o coronel Paulo José Bezerra. Também em depoimento à PF, Bezerra foi outro a atribuir os erros a falhas de informação. De acordo com ele, "a falta de produção de conhecimento na área inteligência foi fator preponderante para que não houvesse o planejamento das operações na dimensão que os fatos requeriam".
O policiamento no local da manifestação foi chefiado pelo major Alencar, também preso na terça-feira. Ele estava como comandante em exercício do 6º Batalhão, que atua na Esplanada. O próprio Alencar relatou ter achado "muito estranho ter sido convocado" para comandar o efetivo naquele dia, já que, por ser major, "comumente comanda o efetivo em manifestações pequenas, por exemplo de estudantes". Segundo ele, geralmente quem atua em grandes manifestações tem a patente de tenente-coronel ou de coronel.
O major também afirmou que "o número de policiais não era suficiente para conter os manifestantes" e que "se tivesse recebido qualquer informação a respeito da radicalidade dos manifestantes o efetivo de policiais teria que ser superior". Alencar acrescentou que, dos 311 policiais que estavam sob seu comando, "cerca de 178 eram oriundos do curso de formação, ou seja, sem qualquer experiência de campo".
O major relatou uma série de falhas na ação policial. Segundo ele, os policias não tinham munição química suficiente "para dar confronto aos manifestantes presentes ali, pois o 'cobertor era curto'".
O Choque Montado, uma tropa de cavalaria da polícia do DF, também não foi enviado para o local antecipadamente. Em seu depoimento, o coronel Bezerra relatou que, às 14h do dia 8, quando os manifestantes já estavam na Esplanada, o comandante-geral da PM, coronel Fábio Augusto, perguntou porque o choque não estava no local. Bezerra relatou ter respondido que "nos pedidos de apoio solicitados ao DOP (Departamento de Operações), a Cavalaria não fazia parte".