ECONOMIA

Analistas explicam por que freio na inflação e no consumo ainda não permite queda de juros

Indicadores refletem piora da atividade, mas analistas avaliam que ainda é cedo para prever queda da taxa de juros no país

Comércio - Tomaz Silva/Agência Brasil

A inflação virou o ano em queda. Caiu na passagem de dezembro para janeiro, de 0,62% para 0,53%. A indústria, por sua vez, fechou 2022 com queda de 0,7%. Já o comércio varejista terminou com alta de 1% — o menor crescimento desde 2016.

Todos esses indicadores divulgados pelo IBGE reforçam a perda de fôlego da economia que já ocorria desde o fim do ano passado, antes de Luiz Inácio Lula da Silva assumir a Presidência.

Se há menos inflação e consumo, não estaria na hora de o Banco Central começar a baixar os juros? Afinal esse é o principal instrumento do BC para desaquecer a economia e deter a alta de preços. Mas analistas dizem que a resposta a essa pergunta não é tão simples, como tem sugerido o presidente Lula nos últimos dias.

Em um cenário sem turbulências e embates no front político, a situação poderia corroborar para a queda da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano. Mas analistas avaliam que ainda é cedo para prever a queda da taxa de juros no país em 2023, o que promete ser um ano difícil para a atividade econômica e para o novo governo.

Na ponta, média dos juros supera 55%
Para Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), os números dão o tom da demanda mais fraca na economia. Resultado dos juros altos, baixos salários, crédito mais caro e esgotamento de um ciclo de consumo que ocorreu durante a pandemia, estimulado pelas transferências do governo e pela poupança das famílias.

Segundo dados do Banco Central, a taxa média de juros praticada entre pessoas físicas e as instituições financeiras subiu de 45% para 55,8% ao ano.

Bentes lembra que essa é a maior taxa em quase cinco anos. Para ele, esse movimento e o comprometimento da renda com dívidas no maior nível histórico inviabilizou a aceleração do consumo a prazo:

— Por mais que algumas variáveis tenham evoluído favoravelmente, como emprego e inflação, outras anularam essa melhora. Para frente não temos muita perspectiva de reversão do cenário. As expectativas para a inflação vêm sendo revisadas há oito semanas para cima e isso significa que não haverá espaço para redução dos juros — explica Bentes.

"Seria forçar uma realidade"
Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, afirma que a queda no ritmo da economia começou no fim do ano passado, com o efeito dos juros e o mundo crescendo menos.

Os índices de confiança do comércio e do consumidor e os juros futuros mais altos devem limitar decisões de consumo e investimento, diz Alessandra:

— Seria forçar uma realidade. Ainda é cedo para pensar em queda de juros.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, concorda:

— Não dá para antecipar cortes de juros. Você está tendo alguns sinais positivos, mas ainda tem um progresso a ser feito em relação à inflação de serviços. E ainda há riscos aqui e lá fora, com o Banco Central americano sinalizando juros altos, a China reabrindo a economia, o que pode pressionar preços de commodities.

Ele lembra que a questão fiscal, com as previsões de rombo nas contas públicas, provoca a desvalorização do real, o que tem que pode gerar pressões inflacionárias por mais tempo.

Alimentos em alta
Puxado por alimentos e combustíveis, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), caiu de 0,62% em dezembro para 0,53% em janeiro,. Este é o primeiro resultado na gestão do presidente Lula.

O número veio abaixo do esperado pelos analistas, que projetavam alta de 0,57%. Mesmo assim, nos últimos 12 meses, o índice acumula alta de 5,77%.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, apenas o segmento de Vestuário teve queda média de preços de 0,27%. A maior pressão de alta foi do grupo Alimentação e bebidas, que avançou 0,59%. As maiores altas foram da cenoura, 17%, e da batata, 14% no mês.

— As altas nesses dois casos se explicam pela grande quantidade de chuvas nas regiões produtoras. Por outro lado, observamos queda de 22,68% no preço da cebola, por conta da maior oferta vindo das regiões Nordeste e Sul— explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

A alta de 0,83% da gasolina também puxou o IPCA para cima.