Opinião

As lições das tragédias que o Brasil precisa aprender

Fábio Silva: "A sociedade civil tem papel fundamental nesses momentos de calamidade" - Cortesia

Um tremor de magnitude 7,8 que durou um minuto e meio na madrugada da última segunda-feira (6) devastou a região central da Turquia e o norte da Síria. O número de mortos passa de 22 mil em 5 dias de resgate. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que o número de vítimas pode ser até oito vezes maior. Mais de 10 mil pessoas ficaram feridas, e milhares ainda estão desaparecidas.

Grandes desastres ambientais naturais ou aqueles provocados pela atuação humana podem acontecer em qualquer contexto - em lugares com boa infraestrutura ou não, regiões ricas ou pobres, nas cidades com diferentes graus de preparação para lidar com riscos. O que define a boa resposta às tragédias é a forma como os governos se organizam para lidar com os efeitos dos desastres.

Uma governança multipartite (multistakeholder) com a articulação entre as três esferas da sociedade - governo, setor privado e sociedade civil - permite uma gerência mais eficiente das tragédias. Isso não tem a ver com incompetência da administração pública, muito pelo contrário, demonstra habilidade e humildade dos seus gestores. Uma decisão consensual ganha mais legitimidade e pode ser mais efetivamente implementada do que uma resposta tradicional baseada unicamente no estado.

A sociedade civil tem papel fundamental nesses momentos de calamidade. É nas iniciativas sociais (ONGs, OSCs, Institutos, Fundações), nos movimentos e mobilizações, nos grupos de amigos e nos negócios de impacto (setor 2.5) que encontramos como propósito e fim o senso de missão, o engajamento, a solidariedade e amor ao próximo. A sociedade civil já ajudou tanto que se profissionalizou, organizou protocolos e, hoje, tem tecnologia para atuar com os governos.

Vejam o exemplo da Turquia e da Síria. Os governos dos dois países pediram ajuda à comunidade internacional para apoiar no desastre. ONU, OTAN, Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras e centenas de voluntários (inclusive do Brasil) estão no Oriente Médio ajudando nos resgates e no amparo às vítimas. A verdade é que um governo não consegue atuar, principalmente nas tragédias, sem o apoio e o engajamento da sociedade civil.

O Brasil, independente de ter um governo de direita ou de esquerda, precisa da sociedade civil! Existem muitas iniciativas socioambientais de impacto no nosso país que estão prontas para ajudar os governos. Vivemos a era da colaboração. Só alcançaremos resultados transformadores com a união de todos.

Um governo colaborativo gera mais oportunidades, mas acesso à saúde, moradia e educação para aqueles que mais precisam. Garante mais eficiência e assertividade na gestão das políticas públicas. E, como disse antes, ganha mais legitimidade. Atuações isoladas são um grande equívoco para qualquer gestor público. Colaborar é a solução. Todos juntos!

 

*Empreendedor social e idealizador da Casa Zero



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