LUTO

Morre o publicitário e jornalista Mauro Salles

Ele foi diretor de Jornalismo e de Programação no início das transmissões da TV Globo, em 1965, e trabalhou no jornal O Globo

O publicitário e jornalista Mauro Salles - Acervo Globo

Morreu na noite do último sábado, aos 90 anos, o publicitário e jornalista Mauro Salles. Ele estava internado desde 4 de dezembro no Hospital Albert Einstein, onde sofreu falência múltipla dos órgãos. Salles foi diretor de Jornalismo e de Programação no início das transmissões da TV Globo, em 1965. Trabalhou no jornal O Globo como repórter, em 1955, e foi responsável pela sucursal de São Paulo, em 1978.

Formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), começou no jornalismo no início dos anos 1950, no escritório da sucursal da revista norte-americana "Life", no Rio de Janeiro.

Em 1954, trabalhou como repórter no jornal "O Mundo", cobrindo política. No mesmo ano, foi convidado pelo dono do jornal, Geraldo Rocha, a integrar a equipe da recém-lançada revista em cores "O Mundo Ilustrado". A publicação chegou a alcançar a tiragem de 140 mil exemplares por semana, considerado um sucesso na época.

Um ano depois, Salles pediu demissão da revista e aceitou convite de Roberto Marinho para trabalhar na Rio Gráfica Editora, onde criou um departamento de promoções e relações públicas.
 

Participou da cobertura do Globo da posse do presidente Juscelino Kubitschek, em outubro de 1955. Na ocasião, emplacou uma imagem na primeira página do jornal ao fotografar a chegada de carregamentos de caviar do Irã e de lagostas do Maine (Estados Unidos) para o jantar da posse. A imagem gerou polêmica porque, na época, o Brasil se orgulhava de ser grande exportador de lagosta do Ceará e do Rio Grande do Norte.

Depois da cobertura da posse, se tornou repórter do Globo. Permaneceu no jornal durante 11 anos e chegou a ser diretor de redação. Nesse período, também foi repórter e assessor de diretoria da Rádio Globo.

Em 1961, licenciou-se durante dez meses para ser secretário do Conselho de Ministros do Gabinete Parlamentar do então ministro da Justiça Tancredo Neves. Após dois anos, foi nomeado pelo presidente João Goulart chefe de gabinete do ministro da Indústria e do Comércio Antônio Balbino. Pouco depois, em uma crise do governo, Balbino se afastou do posto, e Salles foi nomeado ministro. O jornalista ocupou essa função por três meses e, em seguida, deixou o cargo.

Salles teve participação fundamental na concepção e no lançamento da TV Globo, como diretor de jornalismo e diretor de programação, cargo que assumiu nas vésperas da inauguração da emissora, em 1965.

Enquanto diretor de programação, lançou o humorístico "Câmara Indiscreta", versão brasileira do "Candid Camera" da TV americana. Dirigiu a atração até 1966, quando deixou a TV Globo para fundar sua própria agência de propaganda, a Mauro Salles Publicidade.

Em 1977, aceitou o convite do senador João Calmon, presidente dos Diários Associados, para ser vice-presidente executivo do grupo, do qual fazia parte a TV Tupi. No ano seguinte, foi convidado por Roberto Marinho para retornar ao Grupo Globo. Assumiu uma das vice-presidências do grupo, ficando responsável pela rede de televisão, pelas emissoras de rádio e pela sucursal do jornal O GLOBO em São Paulo.

Deixou mais uma vez o grupo para se dedicar ao Latin America Daily Post, jornal de sua propriedade publicado em inglês. De 1978 a 1982, foi presidente do Conselho Curador da Fundação Cásper Libero, responsável pela direção da TV Gazeta, da Rádio Gazeta e do jornal Gazeta Esportiva. Liderou, em 1980, a criação do Código de Ética da Publicidade Brasileira.

Em 1984, coordenou a campanha de Tancredo Neves à Presidência da República. Depois da eleição no colégio eleitoral, chegou a ser nomeado secretário para assuntos extraordinários da Presidência, mas não assumiu devido à morte de Tancredo.

O publicitário e colunista do Globo Washington Olivetto, cuja família é muito próxima à de Salles, lamentou a morte do amigo.

— Conheci Mauro Salles ainda menino. Mauro foi, obviamente, o meu professor, de publicidade e de vida — declarou Olivetto.

Salles deixa sua mulher Tereza, três filhos, dez netos e dez bisnetos.