Depois de crise sobre meta de inflação, reunião entre Campos Neto, Haddad e Tebet dura 28 minutos
Ministros e presidente do BC tiveram almoço reservado de mais de duas horas antes da reunião oficial
A primeira reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) durou 28 minutos. O encontro, que começou às 15h18, contou com a presença de cerca de 20 pessoas, entre técnicos do Banco Central e dos ministérios, e foi encerrada às 15h46. Apenas o Banco Central divulgará votos, depois do fechamento do mercado financeiro.
A reunião veloz, no entanto, não foi o único compromisso entre Campos Neto, Haddad e Tebet nesta quinta-feira. O trio teve um almoço reservado, em que permaneceram juntos por mais de duas horas, sem a presença de técnicos ou assessores.
Havia muita expectativa em relação a essa reunião do CMN: foi o primeiro encontro do CMN no governo Lula do ano e o debate sobre uma possível revisão das metas de inflação, inclusive para 2023, havia ganhado força após uma ofensiva de críticas do PT à atuação do Banco Central na condução da política monetária, sobretudo por causa do elevado patamar da taxa de juros.
O próprio Haddad já tinha afastado essa possibilidade de revisar a meta de inflação nesta reunião na terça-feira, ao afirmar que não pautaria o assunto neste encontro. Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia subido o tom das críticas à autonomia do BC e aos juros, e encontrou eco sobretudo entre os parlamentares petistas.
A deputada e presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann (PR), endossou as críticas e anunciou que o diretório nacional do partido havia decidido que parlamentares da base deveriam trabalhar pela convocação de Campos Neto ao Congresso para se explicar sobre os juros.
A favor do presidente do BC contaram os acenos feitos durante entrevista ao programa Roda Viva, em que falou da preocupação do BC com os juros altos e destacou as iniciativas do Ministério da Fazenda na proteção fiscal, como o pacote que tem uma série de medidas para conter os gastos públicos. Ministros próximos a Lula também agiram nos bastidores para baixar a temperatura e abafar essa crise.
Por outro lado, economistas de mercado têm endossado a posição de Lula em relação à revisão da meta de inflação, alegando que as decisões foram tomadas quando o cenário global era outro. Um exemplo é a guerra da Ucrânia e seus efeitos.
Tradicionalmente o CMN avalia as metas de inflação na reunião de junho. Atualmente já estão fixadas as metas para 2023, que é de 3,25%, e de 2024 e 2025, que estão em 3%. Em todos os casos, o intervalo de tolerância para cumprimento da meta é de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
A missão do Banco Central é perseguir essa meta, e a autoridade monetária faz isso mexendo na taxa básica de juros. Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano -- uma taxa de juros elevada que foi adotada para conter a alta da inflação.