guerra na ucrânia

Grupo paramilitar Wagner pede aos russos pressão sobre Exército por mais munição

Este pedido é inédito na Rússia, onde as críticas ao Kremlin e ao Exército são duramente reprimidas

O fundador do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin - Repodução

O fundador do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, pediu à população russa, nesta quarta-feira (22), que pressione o Exército para fornecer munição para seus homens, um apelo sem precedentes que mostra as tensões entre a organização de mercenários e o Estado-Maior russo.

"Se cada russo em seu nível, para não ter que chamar ninguém para protestar, simplesmente dissesse 'Deem obuses para Wagner', o que já está acontecendo nas redes sociais, então, já seria importante", disse o empresário em um áudio divulgado por sua assessoria de imprensa.

Este pedido é inédito na Rússia, onde as críticas ao Kremlin e ao Exército são duramente reprimidas. Quem critica os militares pode ser condenado a até 15 anos de prisão. Várias figuras da oposição e pessoas anônimas já foram presas por isso.

Há vários dias, Prigozhin acusa o alto comando russo de não fornecer munição para seus homens que estão na linha de frente da batalha pela tomada da cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia.

“Se o motorista falar para o chefe dele dar obuses para o Wagner, se a aeromoça no embarque falar para dar obuses para o Wagner (...) Se o apresentador falar ao vivo para dar obuses para o Wagner, vamos derrubá-los e obrigá-los a fazer não importa o quê", disse Prigozhin, referindo-se à hierarquia militar russa.

"Vamos forçá-los a nos darem obuses", insistiu.

"Há armamento. Mas é preciso que os políticos, os bastardos, a escória assinem para que sejam entregues para o Wagner", continuou o empresário.

Suas declarações representam uma nova escalada nas tensões entre esta organização e o Exército russo, em uma disputa interna no "front" na Ucrânia.

Essas tensões ficaram mais evidentes nas últimas semanas em torno da ofensiva contra Bakhmut, onde o Exército russo e o grupo Wagner reivindicam avanços próprios que às vezes se contradizem.

Na terça-feira (21), Prigozhin já havia acusado o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, de "traição", por não fornecerem as munições exigidas pelo grupo.

Segundo o empresário, o objetivo era deixar Wagner se "destruir" no campo de batalha. Ele afirmou ainda que seu grupo sofre "centenas de perdas" diariamente por falta de munição.

Na terça-feira (21), o Ministério russo da Defesa reagiu, divulgando uma declaração, na qual detalhou a quantidade de munição fornecida aos "esquadrões de assalto voluntários", o nome que parece usar para se referir ao Wagner.