Flanelinhas: extorsões e ameaças continuam

No Recife Antigo,há 118 cadastrados, mas pouco mudou. Motoristas relatam violência. PCR diz que fiscaliza prática

Rafa Mesquita leva o repertório com os hits da atualidade - Divulgação

Quase dois anos após o cadastramento de “flanelinhas” que atuam no Bairro do Recife, de inicia­­­tiva da Prefeitura (PCR), pou­­­ca coisa mudou. Relatos de ex­­­­torsões e ameaças contra mo­­toristas se multiplicam, dando indícios de que o que se­­­ria um projeto com perspectivas de se expandir para outras partes da Cidade, defini­­­tivamente, não funcionou.

Condutores reclamam que fal­­­ta fiscalização, o que levou outras tantas pessoas, além das 118 que receberam liberação para exercer a atividade no início de 2015, a também trabalharem na região histórica. “Flanelinhas” que, invi­­­sí­­­veis a qualquer cadastro ou con­­­trole, cobram preços abu­­sivos e se apossam de espaços que deveriam ser públicos.

Na disputada rua da Moeda, só tem sossego quem se con­­­forma em pagar preços além do cobrado pela Zona Azul (R$ 1). Por semana, são até R$ 20. O cenário se repete em ruas como Dona Maria César e Mariz e Barros, além da praça do Arsenal. A atividade não se restringe ao horário co­­­mercial. À noite, turistas e frequentadores do bairro são intimidados a pagar entre R$ 5 e R$ 10. “Eles se comportam como os donos da rua. Não vi na­­­da melhorar. Por outro la­­­do, acho que proibi-los não vai adiantar, porque vão voltar. É preciso trabalhar com fis­­­calização e o lado social des­­­sas pessoas”, diz o analista de sistemas Erick Andrade, 35.

Violência

Na Vigário Tenório, o que preocupa é a ação de morado­­­res de rua abrigados sob a marquise de um prédio abandonado. Os re­­­­latos são de que consomem drogas, praticam sexo e intimidam quem passa, tudo aos olhos dos que quise­­­rem ver. Ganham dinheiro co­­­­brando valores abusivos pelo estacionamento. “Ai de quem não der o que pe­­­dem. Ao contrário dos outros, que não vão muito além, es­­­ses arranham car­­­­­­­­­­­­­ros e quebram retrovisores”, afirma um motorista de 57 anos, que diz ter sido ameaçado por uma dessas pessoas.

Em 2015, animado com o projeto piloto de cadastramento feito pela PCR, G.M.Q., 48, compareceu à delegacia da avenida Rio Branco para ter a ficha criminal checada e receber um crachá. Regu­­­lari­­­zou-se para seguir exercendo a ati­­vidade que desempenhava havia 16 anos. Hoje, diz-se de­­­cepcionado. “Cobro barato. Consigo R$ 20 por dia e vou vivendo. Mas pouca gente é honesta. Tem muito ladrão misturado com a gente.”

A Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano garantiu que fiscaliza a prática e que “flanelinhas” sem cadas­­­­tro são levados à delegacia pa­­­ra averiguação. A pasta ainda reforçou a necessidade de a po­­­­­­pulação denunciar abusos pa­­­­­­­ra que medidas se­­­jam tomadas.

Já a Polícia Mi­­­litar informou que “atua, sempre que solicitada, nas ocorrências em que houver ações abusivas de ‘flanelinhas’” e que o Recife Antigo tem policia­­­mento diuturnamen­­te, com reforço, sobretudo, nos fins de semana.

A Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, por fim, esclareceu que checaria a situação dos mora­­­dores de rua alvo das denúncias e que possui sete equipes para mapear pessoas nessa si­­­­tuação e trabalhar ações de assistência. Ressaltou, ainda, que essa realidade no bairro é monitorada constantemente.