exportação

Vaca louca: frigoríficos brasileiros vão usar unidades do exterior para vender para China

Após suspensão provisória de exportações do Brasil para o mercado chinês, Minerva e Marfrig vão desviar produção para Uruguai e Argentina

Vaca louca - Reprodução/Unsplash

Duas das principais exportadoras de carne bovina do país, a Marfrig e a Minerva, vão utilizar suas plantas no exterior para manter as vendas a China após o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) suspender temporariamente a exportação de carne do Brasil para a China.

A decisão do ministério foi tomada com base em um protocolo bilateral de inspeção após a confirmação de um caso de “vaca louca” no Pará, identificado em um animal com nove anos de idade.

A China é atualmente o principal comprador de carne bovina do Brasil. No ano passado, a exportação do produto totalizaram a US$ 11,8 bilhões e o país asiático comprou US$ 7,95 bilhões, cerca de 60% do total.

Em comunicado ao mercado, a Marfrig informou que no período de auto suspensão, o atendimento realizado pelas sete plantas da empresa no Brasil será redirecionado para as seis plantas da Marfrig habilitadas para a China, localizadas no Uruguai e na Argentina.

“Nossa plataforma geograficamente diversificada e a flexibilidade de nossos multicanais de venda nos permitirá atender a demanda de nossos clientes”, apontou.

A empresa informou também que, no acumulado dos últimos doze meses reportados, as exportações brasileiras da Marfrig para o mercado chinês representaram 6,4% da receita líquida consolidada.

“Vale destacar que as recentes habilitações recebidas irão contribuir com a diversificação dos destinos de exportação da Marfrig no Brasil”, afirma.

No ano passado, a receita das operações da Marfrig na América do Sul, englobando países como Brasil, Argentina, Uruguai e Chile, subiu 7,8% no terceiro trimestre, na comparação anual, chegando a R$ 7,4 bilhões.

Preço em alta
A empresa explicou que a alta no faturamento dessa operação se deu por conta de um aumento de 10% do preço médio total de vendas, puxado pelas exportações, cujo preço médio avançou, em dólares, 17,4% em relação ao mesmo período do ano passado. A empresa vai divulgar os resultados do quarto trimestre em março.

A Marfrig afirmou ainda que acredita que a situação do EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina, nome científico do mal da vaca louca) está dentro dos parâmetros regulares envolvendo questões sanitárias e espera que as exportações sejam retomadas em breve.

Já a Minerva informou ao mercado que vai continuar exportando carnes para China através de suas quatro unidades de abate na América Latina, sendo três no Uruguai e uma na Argentina.

A Minerva explicou no comunicado que a doença pode ocorrer de forma espontânea e esporádica em todas as populações de bovinos pelo mundo.

“Em função disso, a Minerva acredita que, tal qual em períodos anteriores, a suspensão das exportações brasileiras é temporária e deverá ser retomada em um curto espaço de tempo”, disse a companhia na nota.

No quarto trimestre do ano passado, as exportações corresponderam a 69% da receita total da companhia, o equivalente a R$ 4,573 milhões, enquanto o mercado interno foi responsável por R$ 2,755 milhões.

68% das exportações da Minerva
A China foi o principal destino das exportações da Minerva, seguido dos Estados Unidos e Chile. No quarto trimestre, os chineses compraram 68% do que a companhia exportou.

No acumulado de 2022, o lucro líquido da Minerva totalizou R$ 655,1 milhões, alta de 9,4% frente ao ano anterior.

Segundo a companhia, em nota encaminhada ao mercado, o resultado das exportações em 2022 consolida a Minerva como líder na exportação de carne bovina na América do Sul com aproximadamente 20% de market share.

A ação da minerva recuou quase 8% na B3, ontem, após a suspensão temporária das exportações para a China anunciada pelo MAPA. Já os papéis da Marfrig perderam 4,71%.

Reabertura pode ser rápida
Segundo os analistas de agro do Itaú BBA, diferente do episódio de 2021, em que a demora na reabertura pode ter tido relação com o atraso na notificação do caso, desta vez, a rapidez nos processos de identificação, notificação à Organização Mundial da Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) e aos chineses, além do autoembargo, pode ajudar no reestabelecimento mais rápido das exportações brasileiras.

Além disso, dizem os analistas, a China poderá comprar carne bovina em outros países no curto prazo, mas é difícil substituir o Brasil num prazo mais longo.

Especialmente com a economia chinesa reabrindo após os impactos da Covid-19 e com melhor perspectiva para o PIB. A estimativa é que a importação chinesa de carne bovina em 2023 chegue a 3,5 milhões de toneladas, um recorde.

"Os preços já estão bastante elevados por lá, de modo que, sob a ótica econômica, embargar o Brasil teria efeito inflacionário", escreveram os analistas do Itaú.

Para Larissa Wachholz, sócia da assessoria Vallya e especialista em China, a atuação internacional dos frigoríficos brasileiros, incluindo JBS, que tem unidades nos Estados Unidos e na Austrália que também exportam para a China, mostra o dinamismo do setor e a competitividade brasileira neste produto.

Ela lembra que a maior parte da carne bovina brasileira consumida pelos chineses é usada como ingrediente de pratos típicos locais servidos em restaurantes ou cadeias de fast food.

"Isso é uma questão para nosso posicionamento de marca. É preciso que o Brasil consiga construir uma reputação junto ao consumidor chinês de produzir carne de qualidade, semelhante a da Argentina, Uruguai, Austrália e Estados Unidos", diz Larissa.

Protocolo sanitário
A comercialização foi suspensa nesta quinta-feira, seguindo protocolo sanitário entre os dois países, estabelecido em 2015.

O acordo entre os países foi estabelecido após um longo embargo da China à carne bovina produzida aqui — entre dezembro de 2012 e julho de 2014 — quando houve registro de caso atípico de doença da vaca louca no Paraná.

O caso mais recente, todavia, foi em setembro 2021, quando a suspensão foi superior a três meses.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, recebeu ontem o embaixador da China para discutir a situação. Uma exame que está sendo feito pelo laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (Omas), no Canadá, deve divulgar o resultado dos exames até o fim da próxima semana.

A expectativa no mercado é que a China reinicie a compra de carne bovina do Brasil antes da visita do presidnete lula ao país, em março.