G20 Finanças chega ao fim sem comunicado conjunto por divergências sobre a Ucrânia
A reunião também foi marcada por debates sobre o endividamento dos países mais pobres do planeta
A reunião dos ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 (grupo que reúne países desenvolvidos e emergentes) terminou neste sábado (25) na Índia sem a divulgação de um comunicado conjunto devido às divergências com a China sobre a guerra na Ucrânia.
O G20 Finanças havia iniciado o encontro na sexta-feira (24) em Bangalore, a capital tecnológica da Índia, com o objetivo de coordenar as respostas aos principais desafios econômicos mundiais, aprofundados pela invasão da Ucrânia e pela disparada da inflação.
A Índia, que presidiu a reunião, divulgou um "resumo" dos debates e as razões que impediram a publicação de um comunicado conjunto.
"A maioria dos membros (do G20) condenou com veemência a guerra na Ucrânia, com diferentes avaliações da situação e a respeito das sanções impostas à Rússia desde o início da invasão", afirma o documento.
Um trecho no final do texto afirma que dois parágrafos do projeto de comunicado, relacionadas à guerra na Ucrânia, foram "aprovados por todos os países membros, com exceção da Rússia e da China".
As divergências sobre a Ucrânia já haviam marcado a reunião anterior do G20, em novembro, em Bali (Indonésia).
"As discussões são mais difíceis que nas reuniões anteriores (do G20 Finanças] porque a guerra continua", declarou a ministra espanhola da Economia, Nadia Calviño.
"Algumas posições são menos construtivas em alguns temas", acrescentou, sem citar nomes de países.
"Uma guerra"
Várias fontes vinculadas às negociações, que pediram anonimato, afirmaram à AFP que a China tentou atenuar os termos que se referiam à situação na Ucrânia.
Uma fonte disse que a "China se recusa a condenar a guerra na Ucrânia".
As discussões para buscar um termo conveniente a todos prosseguiram até a madrugada de sábado, revelou outra fonte. Mas sem resultados.
A China sempre se absteve de apoiar ou condenar publicamente a ofensiva russa, mas em várias ocasiões expressou contrariedade com as sanções ocidentais.
Na sexta-feira (24), dia que a invasão russa do território ucraniano completou um ano, o governo chinês apresentou um documento de 12 pontos que pede aos dois lados o início de negociações de paz.
A Índia, que mantém boas relações com a Rússia, também não condenou a intervenção militar na Ucrânia.
Alemanha e França defenderam na sexta-feira, durante as discussões sobre um comunicado final, o uso da palavra "guerra".
Na Ucrânia, "trata-se de uma guerra. E esta guerra tem uma causa, uma única causa, que é a Rússia e (o presidente russo) Vladimir Putin", disse o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner.
"Não aceitaremos qualquer retrocesso na declaração conjunta a respeito da declaração de Bali sobre a Ucrânia", alertou o ministro francês da Economia e das Finanças, Bruno Le Maire.
O comunicado final de Bali destacou que "a maioria dos membros (do G20) condena a guerra na Ucrânia".
Reformas e dívidas
A reunião do G20 Finanças da Índia também foi marcada por debates sobre o endividamento dos países mais pobres do planeta.
Em 2020, o grupo chegou a um acordo sobre a necessidade de definir um "marco" para reestruturar as dívidas, mas o processo é lento.
Em Bangalore também foi abordada a questão da reforma das instituições financeiras internacionais.
O Banco Mundial apresentou em outubro um plano sobre as mudanças.
A reforma deve facilitar a obtenção de fundos para que os países mais pobres consigam enfrentar a inflação, a dívida e a mudança climática.