Nigéria apura os votos após eleição presidencial acirrada
Quase 90 milhões de nigerianos estavam registrados para votar
A Nigéria contava os votos neste domingo (26) após as eleições presidenciais muito disputadas de sábado (25), com três candidatos em busca do posto de chefe de Estado do país de maior população da África.
Quase 90 milhões de nigerianos estavam registrados para votar no sábado, um pleito que em geral transcorreu de maneira tranquila, exceto por casos isolados de violência e problemas técnicos que obrigaram muitas pessoas a aguardar por muitas horas na fila.
Os nigerianos também votaram para definir os nomes das duas câmaras legislativas, a Assembleia Nacional e o Senado.
A transmissão eletrônica de dados e a publicação dos resultados acontecem em um ritmo muito lento, o que provoca temores de manipulação de votos, com a recordação ainda presente das acusações de fraude das eleições passadas.
Preocupados, muitos jovens permaneceram diante dos locais de votação durante toda a noite para "proteger" os votos.
Em alguns centros de votação de Lagos (sudoeste), milhares de eleitores transmitiam ao vivo com seus smartphones a apuração dos votos, contando as cédulas em voz alta ao mesmo tempo que os agentes eleitorais, em uma atmosfera festiva. Cenas similares foram observadas no outro extremo do país, em Kano (norte).
Os candidatos dos principais partidos são o ex-governador de Lagos Bola Tinubo, 70 anos, do Congresso de Todos os Progressistas (APC), e o ex-vice-presidente Atiku Abubakar, 76 anos, aspirante do Partido Popular Democrático (PDP).
E pela primeira vez desde o fim do governo militar em 1999, o país tem um candidato de uma terceira força com chances de vitória: o trabalhista Peter Obi, 61 anos, que apresenta uma mensagem de mudança.
Após dois mandatos do presidente Muhammadu Buhari, do ACP, muitos nigerianos desejam um novo líder com capacidade de combater a violência, o desemprego e a crescente pobreza no país.
- Possível segundo turno -
A disputa acirrada levou alguns analistas a projetar um segundo turno, algo inédito no país.
Para conquistar a presidência, além de ter o maior número de votos a nível nacional, o candidato deve obter pelo menos 25% dos votos em dois terços dos 36 estados da Nigéria.
Se nenhum candidato conseguir, o segundo turno será disputado em um prazo de 21 dias entre os dois nomes mais votados.
As regras eleitorais refletem a realidade de um país dividido entre o norte de maioria muçulmana e o sul de maioria cristã, com três grandes grupos étnicos: iorubá no sudoeste, hausa/fulani no norte e igbo no sudeste.
Em tese, nas eleições de 2023 os dados coletados em quase 176.000 centros de votação do país deveriam chegar de maneira mais rápida a Abuja graças à transmissão eletrônica, tecnologia utilizada pela primeira vez a nível nacional.
Mas a votação enfrentou problemas técnicos no sistema de identificação de eleitores, o que provocou grandes atrasos em alguns pontos de Lagos e outras cidades. Na manhã de domingo não havia nenhum dado publicado no portal da Comissão Eleitoral.
O grupo de observadores 'Yiaga Africa' expressou "profunda preocupação" com o atraso.
- Focos violentos -
As eleições na Nigéria são marcadas com frequência por ataques e confrontos entre grupos rivais, mas a votação de sábado foi considerada pacífica em geral.
Mas alguns focos isolados de incidentes foram registrados: vários centros de votação de Lagos foram alvos de saques, segundo a Comissão Nacional Eleitoral Independente (INEC), máquinas de votação foram roubadas e a eleição em 141 pontos do estado de Bayelsa (sul) acontece neste domingo após as dificuldades observadas no sábado.
A violência foi um dos principais temas de campanha, após 14 anos de rebelião fundamentalista no nordeste do país - que provocou o deslocamento de dois milhões de pessoas -, da presença de milícias na mesma região e de separatistas armados no sudeste.
As eleições são consideradas cruciais: com 216 milhões de habitantes, a Nigéria deve virar o terceiro país mais populoso do mundo até 2050, ao mesmo tempo que a região da África Ocidental está ameaçada por um forte declínio democrático e pela propagação da violência jihadista.