Naufrágio de barco com migrantes deixa 59 mortos na Itália
Doze das 59 vítimas fatais são crianças, incluindo um recém-nascido, e 33 são mulheres.
Ao menos 59 migrantes morreram em um naufrágio neste domingo (26), perto da cidade italiana de Crotone, na região da Calábria (sul), poucos dias após a aprovação de uma polêmica lei sobre o resgate de migrantes no mar.
"Até o momento o número de vítimas fatais confirmado é 59", declarou Vincenzo Voce, prefeito de Crotone, ao canal de notícias Sky TG-24.
De acordo com as equipes de emergência de Crotone, citadas pela agência AGI, 12 das 59 vítimas fatais são crianças, incluindo um recém-nascido, e 33 são mulheres.
As equipes de resgate marítimo informaram que a embarcação colidiu com algumas rochas a poucos metros da costa. Um suposto traficante foi detido pelas forças de segurança, segundo as autoridades locais.
Nas imagens divulgadas pela polícia italiana é possível observar pedaços de madeira espalhados na praia, para onde se dirigiram as equipes de emergência, enquanto os resgatados aguardavam a transferência para um centro de acolhimento.
A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido 'Fratelli d'Italia' (FDI, Irmãos da Itália, extrema-direita), expressou "profunda dor" em um comunicado e afirmou que é "criminoso enviar ao mar uma embarcação de apenas 20 metros com 200 pessoas a bordo e com uma previsão do tempo ruim".
"O governo está comprometido a impedir as saídas e este tipo de tragédia. E continuará a fazer isto ao exigir, antes de qualquer coisa, uma colaboração maior dos Estados de saída e de origem", completou.
O naufrágio aconteceu poucos dias após a aprovação no Parlamento italiano de novas e polêmicas regras para o resgate de migrantes, apoiadas pelo governo dominado pela extrema-direita.
- Pacto Europeu -
Após a tragédia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu a urgência de avançar com a reforma do direito de asilo na União Europeia.
"É necessário redobrar os esforços em relação ao Pacto sobre a Migração e o Direito de Asilo, assim como sobre o Plano de Ação para o Mediterrâneo Central", afirmou.
A parte mais delicada do pacto, que deve ser concluído até o fim do mandato do Parlamento Europeu em 2024, estabelece uma melhor distribuição das responsabilidades em termos de acolhimento, um tema que divide os países da UE desde a crise dos refugiados de 2015.
O presidente da República da Itália, Sergio Mattarella, disse que muitos migrantes eram procedentes do Afeganistão e do Irã, "fugindo de condições muito difíceis".
A situação geográfica da Itália faz do país um destino preferencial para os demandantes de asilo que viajam do norte da África para a Europa.
Roma critica há vários anos o número de chegadas a seu território, embora a maioria dos migrantes abandone a península e siga para outros países.
De acordo com o ministério do Interior, quase 14.000 migrantes entraram na Itália desde o início do ano, contra 5.200 no mesmo período no ano passado e 4.200 em 2021.
- Nova regra para ONGs -
Meloni chegou ao poder em outubro com uma coalizão que prometeu a redução da entrada de migrantes ao país.
Há poucos dias, o Parlamento italiano aprovou uma nova lei que obriga os navios humanitários a fazer apenas um resgate por saída ao mar. Os críticos afirmam que a norma aumenta o risco de mortes no Mediterrâneo central, área considerada a travessia mais perigosa do mundo para os migrantes.
Para o ministro italiano do Interior, Matteo Piantedosi, esta "tragédia demonstra como é absolutamente necessário lutar de maneira firme contra as redes de imigração clandestina".
Embora as ONGs resgatem apenas um pequeno percentual deles - a maioria é interceptada pela Guarda Costeira ou por navios da Marinha -, o governo as acusa de estimular as viagens e e de encorajar os traficantes com suas operações.
O papa Francisco expressou sua "dor" e afirmou que reza "por cada um, pelos desaparecidos e para os outros migrantes que sobreviveram".
Filippo Grandi, titular do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), lamentou "outro terrível naufrágio" e afirmou que "chegou o momento para que os Estados parem de debater e estabeleçam medidas justas, eficazes e compartilhadas para evitar novas tragédias".