Apuração lenta da eleição presidencial na Nigéria aumenta temor de fraude
Mais de 87 milhões de pessoas estavam registradas para comparecer às urnas no sábado (25)
Os nigerianos esperam nesta segunda-feira (27), pelo segundo dia consecutivo, os resultados da acirrada eleição presidencial no país, em meio a acusações de fraude pela lentidão na contagem dos votos.
Mais de 87 milhões de pessoas estavam registradas para comparecer às urnas no sábado (25) para escolher seu presidente para os próximos quatro anos entre 18 candidatos.
O vencedor terá pela frente a difícil tarefa de erguer o país mais populoso da África, com 216 milhões de habitantes, assolado por uma economia em declínio, pela violência recorrente de grupos armados e pelo empobrecimento generalizado da população.
A Comissão Nacional Eleitoral (Inec) divulgou no domingo (26) os resultados de um dos 36 estados do país, Ekiti (sudoeste), e adiou os demais para a manhã desta segunda-feira. Às 12h (horário local), nenhum outro resultado havia sido divulgado ainda.
A lentidão no anúncio alimentou temores de manipulação de votos, com a lembrança ainda presente das acusações de fraude na convocação eleitoral anterior.
Ontem, o candidato do Partido Democrático do Povo (PDP, oposição) Atiku Abubakar pediu à Comissão Eleitoral que anuncie os resultados o mais rápido possível e acusou alguns governadores regionais de subverterem o processo eleitoral.
Nesta segunda, o PDP acusou o partido governista Congresso de Todos os Progressistas (APC) de tentativa de fraude, sobretudo, em Lagos, a capital econômica com o maior número de eleitores registrados (7 milhões).
"O APC está fazendo todo o possível para trapacear em Lagos", disse seu porta-voz, Dele Momodu, à imprensa.
O Partido Trabalhista do candidato Peter Obi também falou em "pressões" do APC sobre o Inec.
Segundo turno?
A Polícia Nacional pediu que sejam respeitados os princípios do "acordo de paz" assinado pelos candidatos às vésperas da eleição presidencial.
Em Kano, a maior cidade do norte, criminosos tentaram incendiar uma seção eleitoral antes que as forças de segurança interviessem, relatou a polícia local.
A tensão é alta, já que os resultados parecem mais apertados do que nunca. Pela primeira vez desde o retorno da democracia em 1999, a Nigéria pode ter uma eleição presidencial de dois turnos.
Muitos nigerianos clamam por mudanças, após oito anos de governo de Muhammadu Buhari. Para suceder-lhe, o APC apresentou a candidatura de Bola Tinubu, de 70 anos, apelidado de “o padrinho” por sua enorme influência política.
O PDP apresenta a candidatura do ex-vice-presidente Atiku Abubakar (1999-2007), de 76 anos, que disputa a eleição presidencial pela sexta vez. Ele repete que sua "sagacidade" no mundo dos negócios vai permitir "salvar" a Nigéria.
O tradicional domínio desses dois partidos na política nigeriana está, no entanto, ameaçado por um terceiro candidato. Com suas promessas de mudança, o ex-governador de Anambra (sudeste) Peter Obi, de 61 anos, do Partido Trabalhista (PL), conquistou grande popularidade entre os jovens urbanos.
Para vencer no primeiro turno, o candidato deve ficar em primeiro lugar e obter no mínimo 25% dos votos em pelo menos 24 dos 36 estados da Nigéria e em Abuja, a capital federal. Caso contrário, um segundo turno deve ser organizado no prazo de 21 dias.