Pablo Neruda. Assassinado?
Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, cujo pseudônimo era Pablo Neruda, nasceu em Parral, no Chile. Antes de receber o Prêmio Nobel de literatura em 1971, sua vida já era marcada pela identificação com as causas revolucionárias de transformação social no seu continente e em outros.
Ele próprio chega a afirmar em seu livro de memórias Confesso que vivi: “Talvez não vivi em mim mesmo, talvez vivi a vida dos outros.” E ainda reforça: “Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.”
Preso à terra natal como um marco, como diria José Lins do Rêgo, Neruda defendia a independência do seu país através do domínio de suas próprias riquezas.
Nascido em região de terras da sua pátria onde a chuva e a neve são constantes, chega a identificar a chuva como seu “único personagem inesquecível”.
Tal circunstância não o faz um dândi. Pelo contrário. Filho de um país situado no hemisfério sul e de grandes depressões salgadas que formam extensos e inóspitos desertos onde se pode transcorrer uma existência sem conhecer a chuva, porém detém em suas terras, em abundância, o salitre e o cobre, dedicou Pablo Neruda todo o vigor do seu comprometimento social aos trabalhadores da região que, além das adversidades da natureza, encontravam a exploração das empresas que operavam no local.
Segundo Eduardo Giannetti, em sua obra Auto-engano, "nada é evidente, sai do nada”.
Difícil é distinguir em Pablo Neruda onde começa o poeta e onde começa o revolucionário. O que é real é que ambos vivem em si mesmos, porém em uma realidade concebida verdadeira e ao mesmo tempo ilusória que os impulsionam. Eles vivem e trabalham para todos os tempos.
O Chile sempre obteve durante largo tempo o reconhecimento de baixa interferência militar na vida civil. Era uma sucessão de governos que os cientistas políticos modernos qualificariam como “democracia consolidada”. Pura ilusão.
Na linha do tempo, duas interferências foram trágicas. A primeira contra José Manuel Emiliano Balmaceda Fernández, que foi presidente do Chile entre 1886 e 1891. Balmaceda foi coagido até as últimas consequências por não concordar com a entrega do salitre às companhias estrangeiras da Inglaterra. Não suportando, foi levado a desistir da própria vida pelo suicídio, aos 51 anos de idade.
A segunda contra Salvador Allende, que governou o Chile entre 1970 e 1973, quando foi deposto por um golpe militar liderado pelas Forças Armadas com o apoio financeiro e militar da CIA. Motivos: a nacionalização do cobre, a reforma agrária e a luta pela implementação da social democracia. Suas últimas palavras foram: “Pagarei com a vida a lealdade do povo.” Era o dia 11 de setembro 1973.
Agora surge com força as informações e incertezas que vêm de longe de que Pablo Neruda teria morrido envenenado, poucas horas após ter deixado o hospital, na sua casa em Isla Negra, doze dias depois da morte de Salvador Allende, assassinado pelos militares chilenos em seu local de trabalho, o Palácio de La Moneda.
A desmemória jamais poderá atingi-lo. Foi um bravo defensor dos ideais democráticos, e atribuiu ao Chile o Prêmio Nobel de Literatura.
Seja como for, vale repetir esta frase célebre de Pablo Neruda: “O reino morto ainda vive.”
É o Canto Geral.
*Procurador de Justiça do Ministério Público de Pernambuco. Diretor Consultivo e Fiscal da Associação do Ministério Público de Pernambuco. Ex- repórter do jornal Correio da Manhã (RJ)