Aplicativos exploram trabalhadores como eles jamais foram explorados, diz Lula
Em evento com entidades sindicais, presidente defende nova legislação para instituir direitos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou um evento com entidades sindicais internacionais nesta quarta-feira (1º) para fazer duras críticas a empresas de aplicativo. Ao lado representantes de trabalhadores e do ex-presidente do Uruguai José Mujica, Lula afirmou que o governo adotará medidas para que os brasileiros vinculados a plataformas digitais, como entregadores e motoristas, possam ter mais direitos.
No Palácio do Planalto, o presidente disse que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, teria a "incumbência" de estabelecer os direitos desses trabalhadores. Marinho, por sua vez, pretende apresentar ainda no primeiro semestre deste ano um projeto sobre o assunto ao Congresso Nacional.
— As empresas de aplicativos exploram os trabalhadores como eles jamais foram explorados na História — discursou Lula.
O presidente acrescentou que atividade sindical era mais fácil nas décadas de 1960 e 1970, quando havia mobilização na porta de fábricas.
— Aqui (no Brasil) temos uma imensa maioria de trabalhadores intermitentes, temporários, que já não conhecem o seu patrão, que não tem sequer a quem reclamar quando tem uma desgraça — completou.
Apesar de o evento ter sido organizado para estabelecer um diálogo com entidades com representação em países do continente americano, como a Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), havia também representantes de países europeus.
Após a solenidade, Marinho disse a jornalistas que era possível construir uma solução legislativa para dar mais direitos a trabalhadores. Inclusive preservando a possibilidade de trabalhadores manterem vínculo com mais de um aplicativo.
— As empresas têm que se ajustar ao que a gente construir.
Marinho também justificou resposta dada ao Valor em entrevista, quando cogitou a hipótese de os Correios substituírem o Uber. Segundo ele, a pergunta foi enfática, e ele respondeu de forma tranquila que, se a empresa quiser sair do Brasil, ela sairia.
— Sabe quem é o maior mercado da Uber? O Brasil. Então, eles vão sair? — questionou.
Integração regional
Ao discursar, o ex-presidente do Uruguai José Mujica preferiu falar sobre a integração da América Latina e os percalços enfrentados durante a pandemia.
— (Nossa região) representa cerca de 7%, 6% da população do mundo. Fomos 30% das vítimas de Covid e não houve nenhuma reunião de presidentes para falar sobre a quebra de patentes. Quatro ou cinco países fabricam e não pudemos discutir — declarou Mujica.
Logo depois, Lula disse que defendia uma América Latina "sem fronteiras" e lamentou que não há mais um esforço de união como quando presidiu o país nos outros mandatos.