Juros altos e cenário externo levaram à desaceleração "acentuada" da economia em 2022, diz Fazenda
Governo espera que a que "rigidez" da política monetária seja fator negativo para o PIB em 2023
O Ministério da Fazenda avaliou nesta quinta-feira (2) que o cenário externo e a taxa de juros em patamar elevado foram os principais fatores para a desaceleração da atividade econômica no Brasil, sobretudo partir do segundo semestre do ano passado. Em nota, a pasta também aponta que a "rigidez” da política monetária será um dos fatores negativos para o PIB de 2023.
No quatro trimestre de 2022, o PIB registrou queda de 0,2% e o resultado anual foi de uma elevação de 2,9%, com impulso da reabertura econômica após o período mais restritivo da pandemia.
“A desaceleração acentuada do ritmo de crescimento em 2022, com retração já observada no último trimestre, repercute, sobretudo, a reduzida liquidez no ambiente externo e o ciclo contracionista da política monetária. O aumento dos juros somado à inadimplência crescente dificultou a tomada de crédito e os investimentos produtivos, levando à retração”, diz a nota.
Para controlar a inflação, a taxa básica de juros no Brasil saiu de 9,25% no início de 2022 e terminou o ano em 13,75% — atual patamar. No cenário global, o ciclo de aperto monetário (subida dos juros) continua em países como EUA e potências da União Europeia.
No dia em que anunciou a reoneração parcial na gasolina e etanol, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a taxa de juros elevada é um dos principais problemas econômicos no país e citou o efeito da desaceleração da atividade econômica.
Cenário
O ministério reconhece que o cenário de desaceleração no ano passado foi parcialmente “contrabalanceado” pelo setor de serviços — estimulado pela transferência de renda (sobretudo o Auxilio Brasil), a liberação do FGTS e o crescimento da massa salarial ao longo do ano.
Por outro lado, nos últimos meses do ano, a pasta ressalta a “forte desaceleração” do setor de serviços e a queda no PIB do setor industrial, conforme os dados do IBGE. Em relação à demanda, o destaque foi para a desaceleração no consumo das famílias e governo, além de queda nas exportações, por exemplo.
O ano de 2023
Em 2023 a Fazenda espera impacto positivo na atividade econômica com medidas do Governo Lula, como o reajuste real (acima da inflação) do salário mínimo e a elevação da faixa de isenção do imposto de renda para pessoas físicas. Negativamente, a pasta também aponta para a restrição monetária, além de outros fatores:
“Podem pesar negativamente para a atividade o aumento da rigidez da política monetária a nível mundial, reduzindo o ritmo de crescimento da economia global e, consequentemente, a contribuição do setor externo para a atividade doméstica e a piora das condições de crédito bancário e não-bancário decorrente das altas taxas de juros domésticas, dificultando a rolagem de dívidas e o acesso a capital de giro pelas empresas”, diz a nota.