Após resultado do PIB, Haddad e Tebet cobram corte de juros; veja o que diz Lula
Fazenda culpa juros altos e cenário externo por desaceleração 'acentuada' da economia em 2022
Após resultado do PIB no quarto trimestre do ano passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira que o governo não está considerando um eventual cenário de recessão na economia brasileira. Ele, porém, reafirmou sua preocupação com a taxa de juros em patamar elevado e o efeito de desaceleração na atividade econômica. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também criticou a taxa de juros, hoje em 13,75%.
— Estamos em uma curva descendente agora e todo desafio do Ministério da Fazenda é reverter este quadro e promover uma curva ascendente no crescimento do PIB. Não estamos trabalhando com perspectiva de recessão, mas evidentemente a manutenção desse patamar nas taxas de juros desencadeia uma desaceleração da economia — disse Haddad.
No quatro trimestre de 2022, o PIB registrou queda de 0,2%. No ano, o país cresceu 2,9%, com impulso da reabertura econômica após o período mais restritivo da pandemia.
Em evento sobre o Bolsa Família, o presidente Lula disse que a economia não cresceu "nada" nada no último trimestre.
— Hoje foram publicados os dados do último trimestre do ano passado. A economia não cresceu nada. Nosso desafio é fazer a economia voltar a crescer. Não vamos permitir obras paralisadas. Estradas, pontes, ferrovias. Essas obras têm que continuar.
Mais cedo, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o governo espera o que chamou de "sinal positivo" do Banco Central na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a taxa básica de juros. O encontro do BC para discutir a Selic está marcado para os dias 21 e 22 deste mês.
É um somatório para mostrar que estamos fazendo dever de casa com o PIB, apesar de ser do ano passado, se mostrou positivo a ponto de podermos estar num diálogo com o Banco Central e com o Copom, mostrando que a inflação não é por demanda. Tivemos crescimento acima das expectativas e estamos fazendo o dever de casa. Consequentemente é possível um gesto, não queremos nenhuma generosidade, mas um gesto positivo a favor do Brasil na próxima reunião do Copom — disse a ministra.
'Desejo do BC'
Haddad disse ainda que tem tomado medidas que vão ao encontro do "desejo do BC" de reduzir os juros.
— Nós temos uma grande oportunidade esse ano de reverter este quadro de desaceleração sem prejudicar a população de baixa renda, que está sendo atingida por programas importantes, como o Bolsa Família lançando hoje, sobretudo as crianças que vão passar a receber R$ 150 por mês — declarou o ministro.
Ministério critica juros
O Ministério da Fazenda avaliou que o cenário externo e a taxa de juros em patamar elevado foram os principais fatores para a desaceleração da atividade econômica no Brasil, sobretudo partir do segundo semestre do ano passado. Em nota, a pasta também aponta que a "rigidez” da política monetária será um dos fatores negativos para o PIB de 2023.
“A desaceleração acentuada do ritmo de crescimento em 2022, com retração já observada no último trimestre, repercute, sobretudo, a reduzida liquidez no ambiente externo e o ciclo contracionista da política monetária. O aumento dos juros somado à inadimplência crescente dificultou a tomada de crédito e os investimentos produtivos, levando à retração”, diz a nota.
Para controlar a inflação, a taxa básica de juros no Brasil saiu de 9,25% no início de 2022 e terminou o ano em 13,75% — atual patamar. No cenário global, o ciclo de aperto monetário (subida dos juros) continua em países como EUA e potências da União Europeia.
No dia em que anunciou a reoneração parcial na gasolina e etanol, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a taxa de juros elevada é um dos principais problemas econômicos no país e citou o efeito da desaceleração da atividade econômica.
Cenário
O ministério reconhece que o cenário de desaceleração no ano passado foi parcialmente “contrabalanceado” pelo setor de serviços — estimulado pela transferência de renda (sobretudo o Auxilio Brasil), a liberação do FGTS e o crescimento da massa salarial ao longo do ano.
Por outro lado, nos últimos meses do ano, a pasta ressalta a “forte desaceleração” do setor de serviços e a queda no PIB do setor industrial, conforme os dados do IBGE. Em relação à demanda, o destaque foi para a desaceleração no consumo das famílias e governo, além de queda nas exportações, por exemplo.
O ano de 2023
Em 2023 a Fazenda espera impacto positivo na atividade econômica com medidas do Governo Lula, como o reajuste real (acima da inflação) do salário mínimo e a elevação da faixa de isenção do imposto de renda para pessoas físicas. Negativamente, a pasta também aponta para a restrição monetária, além de outros fatores.
“Podem pesar negativamente para a atividade o aumento da rigidez da política monetária a nível mundial, reduzindo o ritmo de crescimento da economia global e, consequentemente, a contribuição do setor externo para a atividade doméstica e a piora das condições de crédito bancário e não-bancário decorrente das altas taxas de juros domésticas, dificultando a rolagem de dívidas e o acesso a capital de giro pelas empresas”, diz a nota.