CINEMA

Muribeca ganha documentário que estreia nesta quinta-feira (2)

O conjunto habitacional de Jaboatão dos Guararapes teve que ser evacuado por questões de segurança e virou um verdadeiro cemitério de prédios

"Muribeca" - Foto: Alcione Ferreira

Mais de dois mil apartamentos davam moradia, na década de 1980,  aos habitantes do Conjunto Habitacional Muribeca, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. Com o passar dos anos, as estruturas começaram a apresentar rachaduras e perigo para as pessoas, levando a evacuação de mais de 75% dos prédios. A Caixa Econômica Federal paga auxílio moradia para as famílias mas não assumiu a indenização das parcelas do seguros, que não foram pagas até hoje.

A princípio, essa é a história de “Muribeca”, documentário dirigido por Alcione Ferreira (premiada fotojornalista) e Camilo Soares (diretor de fotografia e professor de cinema na UFPE), com estreia marcada para esta quinta-feira (2). Mas, ao longo das 1h20, nós conhecemos personagens que faziam parte de um organismo vivo. 

O filme conta com filmagens dos primórdios do local feitas por Ozael Lopes, que criava um acervo audiovisual do conjunto. A capa foi feita pelo quadrinista Flavão, também morador e participante da produção. Sem falar de Miró de Muribeca, falecido ano passado, que faz uma aparição lendo um de seus poemas e explicando sua relação agridoce com o lugar. De artistas a vendedores, vamos percebendo que a questão imobiliária não tomou conta de um pedaço de terra, mas que tomou conta de um povo. 

“Existem outros bairros, inclusive na região Metropolitana do Recife, que foram esvaziados, a exemplo de Jardim Fragoso. Mas o que é especial em Muribeca é que vai muito além do conjunto aleatório de pessoas em um lugar. Lá tinha uma construção muito especial sobre as personalidades que ali coabitavam. Lá, existe uma consciência de coletividade e afetividade muito forte”, explica Alcione.

Diante da iminente transformação de seus lares em uma verdadeira cidade fantasma, surgiram diversos movimentos contra o desaparecimento do bairro, como: “Somos Todos Muribeca”; “Daqui Não Saio, Daqui Ninguém me Tira”, “Comissão Resgate Muribeca”, entre outros. A luta e resistência do povo só torna mais evidente o afeto emocional com o lugar e o documentário serve como uma espécie de  instrumento para preservar e resgatar a memória e a magia dos espaços. 

“Ora o filme busca abrigo na nostalgia, ora reacende a esperança. Mas o nosso maior objetivo é trazer uma dimensão que não é levada em consideração. A gente traz Muribeca como um personagem, mas é uma forma de falar sobre várias coisas, como o direito à moradia e suas dimensões. Queríamos falar sobre a questão do pertencimento. Ele não é algo só material, é uma construção que gera individualidade e afetos coletivos”, complementa Alcione.

Confira Trailer: