Padilha chama tentativa de trazer joias de R$ 16,5 milhões de 'contrabando' do governo Bolsonaro
Ex-primeira-dama ganhou colar, anel, relógio e brincos da Arábia Saudita; gestão do ex-presidente tentou reaver o material em pelo menos quatro ocasiões
O ministro das Relações Exteriores, Alexandre Padilha (PT), tratou como repugnante a tentativa do governo Bolsonaro de reaver as joias apreendidas pela Receita Federal em 2021, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O governo Bolsonaro tentou entrar no país ilegalmente com as peças avaliadas em 3 milhões de euros, o equivalente a aproximadamente R$ 16,5 milhões. As pedras preciosas seriam um presente do governo da Arábia Saudita à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O episódio foi revelado pelo jornal Estado de S. Paulo nesta sexta-feira.
"Não sei para quem era a joia. A apuração vai saber para quem é. Mas, independentemente disso, é absolutamente repugnante qualquer atitude de um chefe de estado de qualquer setor público utilizar do seu poder pra cometer um ato de ilegalidade como esse. Certamente vamos descobrir outras ilegalidades pelo ex-presidente que fugiu do país" declarou Padilha sobre Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde o dia 30 de dezembro de 2022.
De acordo com Estadão, as joias estavam na mochila de um militar, assessor do então ministro Bento Albuquerque. O titular das Minas e Energia do governo Bolsonaro voltava de uma viagem pelo Oriente Médio. Ainda de acordo com o jornal, ao saber que as joias haviam sido apreendidas, Albuquerque retornou à área da alfândega e tentou, ele próprio, retirar os itens, informando que se trataria de um presente pessoal para Michelle.
Padilha comentou sobre o caso no Rio de Janeiro, após uma conferência entre governadores sobre o pacto federativo. O ministro brincou que uma "joia" deveria ser dada aos fiscais que evitaram o que ele classificou como "contrabando".
"Se fosse dar uma joia, (deveria ser dada) uma joia para esse fiscal, todos os fiscais da Receita que impediram esse contrabando ilegal de trazer aquilo que foi recebido por uma comitiva presidencial de forma ilegal para o país", frisou.
Ainda na sexta-feira, o ministro da Justiça e Segurança e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que "fatos relativos a joias" e que possam ensejar o cometimento de crimes serão levados à Polícia Federal.
O ex-ministro de Bolsonaro Bento Albuquerque se manifestou publicamente neste sábado também para negar eventual irregularidade no procedimento de liberação de joias no Aeroporto de Guarulhos. Ele disse que não tentou interferir no trabalho da Receita e alegou que as peças avaliadas em R$ 16,5 milhões foram presentes dados por autoridades sauditas ao Estado brasileiro e não à então primeira-dama.
“Quando da chegada da comitiva do Ministério de Minas e Energia ao Brasil - no Aeroporto Internacional de Guarulhos, SP - sem tentar induzir, influenciar ou interferir nas ações adotadas por representantes da Receita Federal, o Ministro se ateve a externar as explicações decorrentes, necessárias à perfeita elucidação da origem dos itens recebidos”, afirmou em nota a assessoria do ex-ministro.