Anita Moraes, uma pioneira
O mês em que celebramos o Dia Internacional da Mulher é sempre um momento de reverenciar as intensas lutas que foram, e são, travadas em favor da ampliação dos espaços femininos na sociedade. Inclusive em Pernambuco, estado irredento e de vanguarda, cuja história é sobejamente pontuada por mulheres guerreiras, corajosas e visionárias.
Não poderia, nesse aspecto, deixar de fazer uma menção especial à trajetória da minha avó Ana Moraes de Andrade - ou Anita Moraes, como era conhecida - uma pioneira nas lutas políticas pela emancipação da força feminina no estado. Primeira mulher eleita vereadora em Pernambuco, ainda em 1945 - aos 39 anos de idade e tendo apenas a quarta série primária - Anita viria a ser reconduzida outras três vezes consecutivas para a Câmara Municipal de Macaparana, na Mata Norte do Estado. Em 1952, no exercício do segundo mandato, ocupava a presidência do Legislativo quando do afastamento do então prefeito, por ordem judicial. Coube a ela assumir a chefia do Executivo, fato que a fez entrar para a história como a segunda mulher a comandar uma prefeitura no Brasil.
Anita Moraes começou a fazer política em 1924, aos 18 anos e grávida do primeiro dos seus nove filhos. Enxergava aquele caminho como o mais eficaz para lutar por igualdade e justiça social. Por conta dessa atitude, ousada para aquela época, enfrentou enormes preconceitos e ameaças de adversários da região. Chegou ao ponto de instalar um alto-falante no primeiro andar da sua casa, utilizando-se dele para denunciar publicamente as perseguições que sofria e os desmandos cometidos pelos coronéis locais.
Graças à sua disposição de luta, Anita deixou grandes legados em Macaparana, como a Casa de Saúde Santo Antônio e o Grupo Escolar Brigadeiro Eduardo Gomes, fundados por ela para atender à população carente da cidade e da região. Foi também uma precursora, dando sua parcela de contribuição para que Pernambuco - outrora um estado tradicionalmente coronelista e machista - pudesse chegar aos dias atuais sob o comando de duas mulheres no Poder Executivo. Além da governadora Raquel Lyra e da vice, Priscila Krause, em 2022 os pernambucanos também garantiram a eleição da sua primeira senadora, Teresa Leitão, e ainda ampliaram a representação feminina na bancada federal.
Este ano, infelizmente, o contingente de deputadas estaduais na Assembleia Legislativa foi reduzido nas urnas de dez para seis mulheres. Entretanto, não nos cabe lamentar, e sim analisar as causas desse cenário, utilizando-as como força motriz para redobrar esforços buscando sua reversão. Que o legado de mulheres como Anita Moraes, Adalgisa Cavalcanti, Cristina Tavares e tantas outras pioneiras e guerreiras da nossa história nos inspire a seguir combatendo preconceitos e lutando pelo necessário equilíbrio de forças na política de Pernambuco e do Brasil.
*Deputado estadual