Mulheres protestam por seus direitos ameaçados em todo o mundo
Os motivos de mobilização neste Dia Internacional da Mulher são inúmeros
Com seus direitos ameaçados em várias partes do mundo, milhares de mulheres saem às ruas nesta quarta-feira (8) para exigir o fim da discriminação e do feminicídio, que crescem em todo o mundo.
Os motivos de mobilização neste Dia Internacional da Mulher são inúmeros: as restrições impostas no Afeganistão desde a volta do Talibã ao poder, a repressão aos protestos no Irã pela morte de Mahsa Amini, o questionamento do direito ao aborto nos Estados Unidos ou as consequências da guerra na Ucrânia para as mulheres.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, homenageou em um vídeo "todas as mulheres que trabalham, ensinam, estudam, salvam, cuidam e lutam" pelo país, assim como aquelas que "sacrificaram suas vidas" desde o início da invasão um ano atrás.
Já o presidente russo, Vladimir Putin, enviou uma mensagem às mulheres que "cumprem o seu dever" ao serviço da nação.
As mulheres são as primeiras vítimas das guerras e estão sub-representadas nas mesas de negociação, denunciaram na terça-feira representantes oficiais perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Os atos neste 8 de março serão realizados em várias cidades, desde Madri, que costuma reunir uma gigantesca maré roxa, até São Paulo, passando também por Cabul, onde cerca de vinte mulheres se manifestaram, observaram os jornalistas da AFP.
"Chegou a hora da ONU tomar ações decisivas para o destino do povo", declarou uma das manifestantes.
Desde o retorno ao poder em agosto de 2021, os talibãs multiplicaram as restrições para as mulheres, que foram banidas da universidade e não podem acessar o ensino médio.
"O Afeganistão sob o domínio do Talibã continua sendo o país mais repressivo do mundo no que diz respeito aos direitos das mulheres", denunciou Roza Otunbayeva, diretora da missão de assistência da ONU nesse país asiático.
No Paquistão, país conservador e patriarcal, milhares de mulheres saíram às ruas, apesar das tentativas das autoridades em várias cidades de impedir as marchas.
"Não vamos mais ficar em silêncio. É o nosso dia, é o nosso momento", disse Rabail Akhtar, uma professora que se juntou às 2.000 mulheres que protestaram em Lahore.
Direito ao aborto
"Os avanços obtidos em décadas estão evaporando diante de nossos olhos", alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na segunda-feira. "No ritmo atual, a ONU Mulheres calcula que serão necessários 300 anos" para alcançar a igualdade entre homens e mulheres, acrescentou.
Em um gesto simbólico na véspera de 8 de março, a União Europeia (UE) adotou sanções contra nove funcionários e três entidades oficiais de seis países, incluindo Afeganistão, Rússia e Sudão do Sul, por casos de violência sexual e abuso contra mulheres.
Na Europa, são esperadas manifestações em vários países. Na França, marchas por "igualdade no trabalho e na vida" foram convocadas em cerca de 150 cidades.
Outro tema central dos protestos será a defesa do direito ao aborto, enfraquecido nos Estados Unidos pela decisão da Suprema Corte em junho de revogar a decisão de 1973 que garantia o acesso a nível federal.
Na Europa, esse direito também foi enfraquecido na Hungria e na Polônia.
"Lutamos contra um patriarcado (...) que disputa até a morte esses nossos direitos - como o aborto - que conquistamos lutando", afirma o manifesto da marcha que acontecerá em Madri.
Manifestações na América Latina
No Brasil, atos em São Paulo e no Rio de Janeiro denunciarão os "cortes nas políticas de proteção às mulheres" e o "crescimento vertiginoso do machismo e da misoginia" durante o mandato do direitista Jair Bolsonaro (2019-2022), afirmou Junéia Batista, da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Sob os slogans "Nem mais uma assassinada!" e "Contra a violência sexista e o trabalho precário!", coletivos feministas convocaram marchas nas principais cidades do México, onde em 2022 ocorreram 969 feminicídios, segundo dados oficiais.
Também na Colômbia, organizações de mulheres convocaram manifestações em Bogotá, Medellín, Cali e outras cidades para exigir ações contra o aumento de feminicídios, que passaram de 182 em 2020 para 614 no ano passado.
Na Venezuela, sindicatos e federações convocaram uma manifestação em Caracas para exigir a garantia de seus direitos, violados por baixos salários, abusos e pela "crescente feminização da pobreza".
Sem permissão das autoridades para se manifestarem livremente, as organizações feministas independentes de Cuba convocaram uma "marcha virtual" nas redes sociais para conscientizar sobre a violência de gênero e o feminicídio.