NEGÓCIOS

Americanas: deputados querem CPI e explicação de trio de acionistas sobre crise da varejista

Se os bilionários forem chamados para comparecer pessoalmente no Congresso, legalmente são obrigados, mas poderão permanecer em silêncio

Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira são os fundadores da 3G Capital e acionistas da Americanas - Divulgação

A possibilidade de o trio de acionistas bilionários de referência da Americanas ser chamado para prestar esclarecimentos no Congresso está cada vez maior. Uma petição solicitando a investigação sobre o colapso financeiro da varejista já foi assinada por 187 deputados da Câmara até quarta-feira — mais do que os 171 necessários.

De acordo com o deputado André Fufuca (PP), que coleta as assinaturas e é próximo ao presidente da Câmara, Artur Lira, um pedido formal deve ser feito ainda esta semana para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). A petição precisa ser confirmada por Lira antes de começar a funcionar.

Se isso acontecer, o trio de acionistas de referência que apoiou a varejista nas últimas quatro décadas - Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira - pode ser convidado ou mesmo convocado para comparecer perante ao Congresso pessoalmente. Legalmente, eles são obrigados a ir, mas poderão permanecer em silêncio, se assim o desejarem.

A Americanas pediu concordata em janeiro, cerca de uma semana depois de revelar um rombo de quase de R$ 20 bilhões em seu balanço. O deputado Elmar Nascimento, líder do partido União Brasil, disse que a proposta de abertura da investigação foi apresentada aos líderes partidários na terça-feira, durante reunião na residência oficial de Lira, e recebeu amplo apoio.

— Vamos chamar todos e identificar os responsáveis — pontuou Nascimento. —Vamos investigar, não é possível que pequenos investidores e fornecedores sofram prejuízos.
 

Fufuca disse que não pode prever quem será convocado, mas que a comissão deve ir atrás dos “grandes protagonistas”.

— Não é contra o grupo A, B ou C. É uma questão de transparência no mercado de ações — disse Fufuca.

Quaisquer conclusões dos legisladores servem apenas como base para possíveis investigações adicionais por parte das autoridades competentes e muitas vezes rendem pouco resultado. No entanto, o ruído criado por meses de sessões televisionadas pode ser muito prejudicial para os envolvidos.

Também pode retardar os debates sobre várias reformas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no mês passado atribuiu o fim da empresa a “fraude”, está tentando passar pelo Congresso a reforma tributária.

Em seu pedido de abertura de inquérito, Fufuca disse que o episódio da Americanas afeta a credibilidade de todo o mercado de ações do Brasil.

— É do interesse público fazer com que os investidores confiem que a economia popular jamais será prejudicada por qualquer tipo de fraude, erro ou acobertamento em balanços, sem que o governo investigue e exponha tudo o que aconteceu nesses casos — afirmou.

Regulador de Valores Mobiliários
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também está investigando as irregularidades na Americanas e o impacto sobre os investidores. Sergio Rial, que foi diretor-presidente da varejista por apenas nove dias até pedir demissão em 11 de janeiro e revelar o rombo de R$ 20 bilhões, deveria depor na quarta-feira sobre o caso na sede da CVM no Rio de Janeiro, segundo informações de uma pessoa a par do assunto.

A Americanas não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Questionada sobre a confirmação da reunião, a CVM informou que não comenta casos específicos. Rial não respondeu a uma mensagem pedindo comentários.

Em reunião com credores, representantes da Americanas e dos principais acionistas bilionários apresentaram uma proposta de aumento de capital de 10 bilhões de reais, de acordo com um documento regulatório.