Mercado de trabalho dos EUA dá sinais de enfraquecimento em fevereiro
Dados do Departamento do Trabalho mostraram que a maior economia do mundo criou 311 mil empregos no mês passado, contra 504 mil em janeiro
A economia dos EUA criou menos empregos em fevereiro do que em janeiro e o índice de desemprego subiu, de acordo com dados oficiais divulgados nesta sexta-feira (10), um sinal há muito tempo esperado pelos mercados.
Dados do Departamento do Trabalho mostraram que a maior economia do mundo criou 311 mil empregos no mês passado, contra 504 mil em janeiro. Analistas esperavam a criação de 205 mil empregos.
O índice de desemprego passou, assim, de 3,4% no primeiro mês do ano - o nível mais baixo desde 1969 - para 3,6%, valor que se mantém historicamente baixo.
Os setores que mais contribuíram para o total de empregos gerados foram lazer e hotelaria, varejo, setor público e assistência médica, informou o Departamento, enquanto os empregos em informação, transporte e logística de armazéns caíram.
Este relatório tem uma importância especial, porque após dois anos de uma escassez de mão de obra que elevou os salários, um sinal de distensão é visto antes da reunião do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em 21 e 22 de março.
O Fed tem elevado as taxas de juros para encarecer o crédito e diminuir o consumo e o investimento que pressionam os preços.
E a robustez do mercado de trabalho é outro fator de inflação, em um contexto de demanda por bens e serviços, sustentada pelos preços em ascensão.
Esta semana, o presidente do Fed, Jerome Powell, advertiu que os juros poderiam aumentar mais do que o esperado inicialmente diante dos sinais de fortalecimento da economia.
Para o presidente americano, Joe Biden, a economia americana "avança na direção certa".
Rubeela Farooqi, economista-chefe da HFE, avaliou, por sua vez, que "os dados mostram que o mercado de trabalho continua sólido".
"Mas uma alta da taxa de desemprego e um aumento menor dos salários sugere algum ajuste das condições" do mercado, relativizou.
Retorno dos trabalhadores
Os empregadores enfrentam uma escassez de mão de obra há quase dois anos, o que fez os preços aumentarem.
A taxa de participação da força de trabalho, ou seja, as pessoas dispostas a trabalhar, voltou a subir em fevereiro e ajuda a explicar o aumento do desemprego, mas também é um um sinal de que os trabalhadores estão voltando ao mercado.
"Quando um número maior de pessoas entra no mercado de trabalho, isso flexibiliza as condições" e contribui para "corrigir o desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado de trabalho", explicou a secretária do Tesouro, Janet Yellen, perante uma comissão da Câmara dos Representantes nesta sexta-feira.
Demissões
Os dados de emprego no setor privado divulgados na quarta-feira por meio da pesquisa mensal ADP/Stanford Lab, revelaram um nível alto de contratações. E "uma pequena moderação no aumento salarial, por si só, não deve reduzir a inflação rapidamente no curto prazo", comentou Nela Richardson, economista-chefe da ADP.
Por outro lado, no setor privado, 77.700 postos de trabalho foram perdidos em fevereiro, o maior número para este mês desde 2009, quando a crise das hipotecas atingiu todo o seu potencial, segundo estudo da consultoria Challenger, Gray & Christmas, divulgado na quinta-feira.
"É claro que os empregadores continuam atentos ao aumento de juros planejado pelo Fed. Eles esperam uma mudança de rumo (da economia, para baixo) e cortam suas despesas por todos os lados", resumiu o vice-presidente da consultoria, Andrew Challenger, citado em nota.
O setor de tecnologia, em particular, multiplicou os anúncios de demissões em massa, mas representa uma pequena parte da massa salarial americana.
Os pedidos semanais de seguro-desemprego, por sua vez, ficaram acima de 200.000 na semana de 27 de fevereiro a 4 de março pela primeira vez neste ano, de acordo com dados do Departamento do Trabalho, divulgados na quinta-feira. Embora seja um nível baixo, esses números podem sinalizar uma mudança na tendência do mercado de trabalho, segundo alguns economistas.