Sem comandar capitas, PT enfrenta entraves no plano de expansão em prefeituras
Partido começa a definir estratégias para eleições municipais do ano que vem, mas esbarra em falta de lideranças locais e em acordos já alinhavados com legendas aliadas
Depois de perder a última eleição para a prefeitura em todas as capitais, o PT já enfrenta dificuldades para reconquistar espaço na disputa municipal de 2024. A direção nacional da legenda começará a traçar estratégias junto aos diretórios municipais nas próximas semanas, mas integrantes da sigla admitem empecilhos para consolidar lideranças nas principais cidades do país.
Lula assumiu a Presidência este ano com um partido bem menos capilarizado do que em suas duas outras vitórias. Em 2002, na primeira eleição do petista, a legenda somava 187 prefeitos. Quando foi reeleito, o número era bem maior: 558.
O primeiro baque foi em 2016, quando, no auge da Lava-Jato, o partido conquistou só 256 prefeituras. Mas o fiasco veio de fato no último pleito: pela primeira vez em 35 anos, o PT não venceu em nenhuma capital, e acabou apenas à frente de 183 cidades.
Em São Paulo, os petistas se comprometeram a apoiar ano que vem o deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL, que abriu mão da disputa estadual no ano passado para apoiar o candidato petista derrotado Fernando Haddad. Uma ala comandada pelo secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, defende que o partido rompa o combinado e lance uma candidatura própria. Mas não há nomes. Por isso, a expectativa é que Boulos ceda a vaga de vice.
O PT também cobiça a segunda cadeira da capital fluminense, onde o prefeito Eduardo Paes (PSD) acenou com secretarias para manter a sigla em sua base. Mas ao contrário de Boulos, Paes tem sinalizado que prefere que a vaga fique com o seu grupo político.
No entanto, petistas aliados de Paes afirmam que o mandatário já foi alertado de que o rompimento em 2024 implicaria no lançamento de um candidato a governador do PT com o apoio de Lula em 2026.
Em Salvador, onde o PT patina há anos, a costura para 2024 tem até o nome do vice-governador Geraldo Júnior, do MDB, que admite a aliados a vontade de ser candidato. O problema é que o vice do governador Jerônimo Rodrigues suscita desconfiança de petistas pelo seu histórico de aliança com ACM Neto. O PT raiz, em outra frente, defende nomes como o de Maria Marighella, presidente da Funarte, e a socióloga Vilma Reis. Ambas tiveram boas votações para a Câmara, mas não se elegeram.
Assim como em São Paulo, o PT sofreu uma derrota histórica na Bahia em 2020. A candidata do partido, Major Denice, terminou em segundo lugar, com apenas 18,86%.
Além das divisões internas no PT, o PCdoB e o PV têm em seus quadros dois ex-candidatos emblemáticos que disputaram em 2020: Olívia Santana, que até se colocou à disposição para concorrer novamente, e Bacelar, que trocou o Podemos pelo PV no ano passado. Como os três partidos formaram uma federação, terão de chegar a um consenso.
Embora os petistas admitam o favoritismo do prefeito Bruno Reis, eles também alimentam a esperança de uma “onda vermelha”. Lula recebeu mais de 70% dos votos no segundo turno e elegeu Jerônimo, então desconhecido. Em 2008 e 2012, quando o PT chegou ao segundo turno com candidaturas competitivas para a prefeitura de Salvador, o partido também comandava os governos federal e estadual.
"O PT vai construir primeiro a unidade do grupo, depois a melhor tática eleitoral e, por último, entender qual será o melhor perfil para a disputa. Que pode ser alguém do PT ou de um partido aliado", disse o presidente do PT da Bahia, Éden Valadares.
Embora esteja com o governo federal de novo nas mãos, o PT sofre com a falta de lideranças locais para conquistar mais espaços nas prefeituras, afirmam especialistas. Soma-se a isso acordos preestabelecidos pela sigla e as dificuldades para se negociar alianças em uma federação com PCdoB e PV.
"O berço de formação de lideranças são as eleições locais e proporcionais. O PT depende muito de desfrutar de contexto favorável para esses candidatos colarem em candidaturas majoritárias. Essa dificuldade de identificação de quadros ocorre após 2016, quando o partido foi quase dizimado", analisa o cientista político Antonio Lavareda.
A situação é menos otimista na capital mineira, e o PT caminha para apoiar Fuad Noman (PSD), que assumiu a prefeitura depois de Alexandre Kalil renunciar para disputar a eleição estadual com o apoio de Lula. Fuad mantém boa relação com o PT e não se desfez de quadros da sigla que ocupavam cargos na gestão de Kalil. Em 2020, Nilmário Miranda (PT) amargou pouco mais de 1% na disputa.
Em Recife, o prefeito João Campos ampliou o espaço do PT e cedeu duas secretarias. A tendência hoje é o apoio a Campos, que é do PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin.