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Medo da guerra na Ucrânia estimula populistas no leste europeu

Assustar os cidadãos com a guerra tornou-se comum no leste europeu

Guerra na Ucrânia - Dimitar Dilkoff/AFP

A invasão russa da Ucrânia deu aos populistas do leste europeu uma arma poderosa: o medo da guerra. Sem solução para o conflito no horizonte próximo, alguns políticos aproveitam a ansiedade que isso provoca para sugerir que apoiar a Ucrânia pode levar seus países à guerra.

De Praga a Sófia, o discurso político é dominado por falsas alegações de que os governos esperam restabelecer o recrutamento, anunciar mobilização geral ou "mandar seus filhos para o triturador de carne".

"O medo é uma emoção primária e a política do medo é a tática mais antiga conhecida", disse Jiri Priban, professor de direito da Universidade de Cardiff. "Ele faz parte de todas as campanhas políticas", enfatizou.

O alarmismo já parece estar em ação na Eslováquia, onde muitos homens recusam formalmente o serviço militar por motivos morais ou religiosos.

Se antes da guerra, a Eslováquia, membro da Otan e fronteira com a Ucrânia, registrava cerca de 1.500 objetores de consciência anualmente, esse número subiu para mais de 40 mil no ano passado, segundo o Ministério da Defesa.

O vento de pânico entre os jovens eslovacos foi provocado, pelo menos em parte, pelo ex-primeiro-ministro Robert Fico, que está conduzindo uma campanha eleitoral baseada em críticas à Otan, aos Estados Unidos e aos "fascistas ucranianos".

Fico diz que o conflito "não nos diz respeito" porque é "uma guerra entre os Estados Unidos e a Rússia".

Retomando a propaganda pró-Kremlin, ele chamou o apoio da UE à Ucrânia de "missão suicida" e acusou o governo eslovaco de ser um lacaio dos Estados Unidos que não hesitaria em "enviar seus filhos para o front".

"Assustar"
A tática do medo parece estar dando resultado: o partido de Fico, o Smer, lidera ou aparece em segundo lugar nas pesquisas antes das eleições legislativas de setembro.

"A Eslováquia é extremamente vulnerável à desinformação e os russos encontraram um terreno muito fértil lá para sua propaganda", disse Michal Vasecka, membro do Aspen e sociólogo da Escola Internacional de Artes Liberais em Bratislava.

"Quando as pessoas ouvem repetidamente que seu governo é um agente dos Estados Unidos, elas começam a pensar: 'Por que nossos filhos deveriam defender os interesses americanos?'", afirmou.

Falsos argumentos sobre a guerra também dominaram as recentes eleições presidenciais na vizinha República Tcheca e continuam a atormentar o novo presidente, Petr Pavel.

Embora esse general aposentado da Otan tenha vencido a eleição de 28 de janeiro, ele continua sendo alvo de uma campanha de desinformação que o retrata como um defensor da guerra e que estaria pronto para atirar.

As verificações feitas pela AFP desmentiram falsas declarações segundo as quais Pavel teria pedido o envio de soldados tchecos para lutar na Ucrânia, seria a favor de seu país declarar guerra à Rússia ou apoiaria a ideia de alistamento militar obrigatório para pessoas nascidas após 2003 .

"Medo existencial"
Assustar os cidadãos com a guerra tornou-se comum em outras partes do leste europeu.

Na Bulgária, o partido ultranacionalista pró-Rússia Vazrazhdane (Renascimento) organizou manifestações contra o governo e alertou os eleitores sobre o risco de se tornarem "bucha de canhão".

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, comparou a Ucrânia ao Afeganistão e seu governo é abertamente pró-Rússia.

Paradoxalmente, a política do medo da guerra tem pouco sucesso nos distritos eleitorais da Polônia e das repúblicas bálticas, onde o perigo de uma agressão militar russa parece mais real.

A experiência histórica negativa comum com a Rússia imunizou suas populações contra a propaganda pró-Kremlin, considera o professor Jiri Priban.

"Existe um medo existencial real nos países bálticos, mas isso reforça seu apoio à Ucrânia", concluiu o professor da Universidade de Cardiff.