Finanças

Governo britânico apresenta orçamento em meio à greve pelo custo de vida

Serão investidos 94 bilhões de libras em dois anos

centenas de funcionários andaram até o gabinete do primeiro-ministro, Rishi Sunak, em Downing Street,em referência a um ajuste salarial pela inflação - Paul Ellis/AFP

O governo britânico investirá 94 bilhões de libras (107,7 bilhões de euros) em dois anos para aumentar o poder aquisitivo, anunciou, nesta quarta (15), o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, durante a apresentação do orçamento. O anúncio coincidiu com o dia da greve pelo aumento do custo de vida.

Hunt afirmou diante do Parlamento que o Reino Unido não cairá em "recessão técnica este ano", contrariamente às previsões anteriores.

A economia britânica vai contrair 0,2% este ano devido à debilidade da atividade no primeiro trimestre, informou o ministro, baseando-se nas novas projeções do OBR, o órgão público de previsão fiscal.

A definição habitual de recessão consiste em ao menos dois trimestres consecutivos de contração do Produto Interno Bruto.

"A economia britânica contradiz quem duvidava dela", disse com ênfase no Parlamento.

O OBR havia estimado em novembro que a economia do país sofreria este ano uma queda de 1,4%.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) também estimou, em janeiro, que o Reino Unido seria este ano única grande economia a entrar em recessão, com uma contração prevista do PIB de 0,6%.

Em resposta à pressão da inflação que está acima de 10%, o governo anunciou, nesta quarta, que vai prolongar por três meses um teto para os preços da energia para os lares.

"10% agora!"

O ministro das Finanças acrescentou que, segundo as previsões do OBR, a inflação que está minando o poder aquisitivo dos britânicos, passará "de 10,7% do último trimestre do ano passado para 2,9% até o final de 2023".

"Diante da crise do custo de vida (...) demonstramos novos valores para proteger as famílias em dificuldades", disse Hunt em um discurso no qual destacou as ajudas energéticas e também os subsídios às creches em um país que tem um dos sistemas "mais caros do mundo".

O governo pensa em implementar incentivos fiscais para a criação de creches e aumentar as vagas.

"Para muitas mulheres, uma pausa em sua carreira implica no final de sua carreira", admitiu o ministro.

Coincidindo com o discurso de Hunt no Parlamento, centenas de funcionários andaram até o gabinete do primeiro-ministro, Rishi Sunak, em Downing Street gritando a frase "O quê queremos? 10%! Quando? Agora", em referência a um ajuste salarial pela inflação.

A greve desta quarta convocou professores, condutores do metrô, médicos e funcionários públicos, para reclamar uma alta salarial para responder à crise da inflação.

Muitos trabalhadores também protestaram pelas condições trabalhistas, pela segurança e pelas aposentadorias.

Entre os grupos mobilizados estão os acadêmicos e também os jornalistas da cadeia BBC e empregados das ferrovias.

Em Londres,o metrô estava praticamente sem atividades devido à greve dos condutores.

Os médicos dos hospitais estão, por sua vez, mobilizados desde segunda (13).

Os funcionários públicos também participam do protesto.

Ben Millis, um diretor de projetos da administração pública de 25 anos, afirmou que o país é testemunha de uma "onda incrível de ativismo".

Os preços de tudo subiram muito, e este é o congelamento salarial mais longo (...) desde que há registros salariais", disso à AFP em meio a uma manifestação onde foram tocados apitos e tambores.

"Creio que a gente está começando a sentir que algo tem que mudar e que temos que nos organizar", concluiu.