Os escândalos do banco Credit Suisse nos últimos anos
A entidade era considerada o "elo fraco" do setor bancário suíço
As ações de Credit Suisse, que passa por uma restruturação profunda, continuaram derretendo nesta quarta-feira (15), depois de uma série de escândalos nos últimos anos envolvendo a entidade financeira, considerada o "elo fraco" do setor bancário suíço.
Quebra da Greensill
O banco viu seu braço de gestão de ativos balançar com a falência da companhia financeira britânica Greensill em 2021, na qual havia comprometido cerca de 10 bilhões de dólares através de quatro fundos.
Quando uma seguradora se negou a renovar os contratos da Greensill - uma firma britânica que utilizava acordos financeiros complexos para emprestar dinheiro a empresas para que pagassem suas despesas -, o Credit Suisse, que já não podia calcular o valor dos fundos, começou a liquidá-los.
Consequentemente, a Greensill quebrou e abalou as empresas que dependiam dela para ter liquidez, uma falência que também afetou seus credores, entre eles o gigante japonês SoftBank.
Fundo Archegos
Quatro semanas mais tarde, o fundo americano Archegos já não podia injetar dinheiro para cobrir seus investimentos em derivados, o que desencadeou uma venda maciça em Wall Street.
Vários bancos grandes foram afetados, sendo o Credit Suisse o mais prejudicado, em cerca de 5 bilhões de dólares.
Crédito para Moçambique
Em outubro de 2021, o banco viu-se imerso em um caso de corrupção em Moçambique, relacionado com empréstimos a empresas estatais.
As autoridades de Estados Unidos e Reino Unido impuseram sanções ao banco no valor de 475 milhões de dólares.
Os empréstimos, concedidos entre 2013 e 2016, serviriam para financiar projetos de vigilância marítima, pesca e estaleiros, mas foram parcialmente desviados para pagamento de propina.
Violação das normas de quarentena
Em dezembro de 2021, o tabloide suíço Blick revelou que o então presidente do banco, Antonio Horta-Osorio, tinha infringido as normas de quarentena relacionadas com a pandemia de covid-19.
Além disso, a imprensa fez outras revelações, como o descumprimento das restrições sanitárias para assistir a uma partida de tênis em Wimbledon.
O banqueiro acabou renunciando menos de nove meses depois de assumir o cargo.
"Suisse secrets"
Em fevereiro de 2022, o Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), um consórcio de 47 meios de comunicação, entre eles o francês Le Monde e o americano New York Times, publicou uma investigação intitulada "Suisse secrets" ("Segredos suíços", em inglês).
A investigação, baseada em dados de contas dos anos 1940 até o fim da década de 2000, revela que o banco recebeu recursos de clientes envolvidos em casos criminais e de corrupção.
Julgamento em Bermudas
Em março de 2022, um tribunal de Bermudas confirmou que o ex-primeiro-ministro georgiano Bidzina Ivanishvili tinha registrado perdas em seus investimentos geridos por Patrice Lescaudron, um ex-banqueiro francês do Credit Suisse, demitido em 2015, condenado por fraude em Genebra em 2018 e que se suicidou dois anos depois.
Lavagem de dinheiro de cocaína na Bulgária
Em junho de 2022, o banco foi condenado na Suíça em um caso de lavagem de dinheiro vinculado a uma rede búlgara de tráfico de cocaína. Foi multado em 2 milhões de dólares.
Dois acordos por litígios antigos
Em outubro de 2022, o banco resolveu um litígio nos Estados Unidos que remontava à crise financeira de 2008, relativo a títulos lastreados em hipotecas, chegando a um acordo em troca de um pagamento de 495 milhões de dólares.
Já na França, concordou em pagar 238 milhões de euros para evitar ser processado por prospecção ilegal de clientes e fraude fiscal agravada entre 2005 e 2012.
Greensill, parte 2
No final de fevereiro de 2023, dois anos depois do escândalo da quebra da Greensill, a Autoridade Suíça dos Mercados Financeiros (Finma) acusou o Credit Suisse de ter "descumprido gravemente suas obrigações prudenciais" em matéria de gestão de riscos.
Adiamento do relatório anual
Na semana passada, o banco adiou a publicação de seu relatório anual após pedido da SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, que levantou dúvidas sobre suas contas para os exercícios 2019 e 2020.
Nesta terça-feira, o Credit Suisse reconheceu "fragilidades materiais" em seus controles internos ao publicar o relatório anual, o que derrubou as ações do banco.
Hoje, o derretimento dos papéis se acelerou depois que a principal acionista declarou que não vai apoiar a entidade aumentando sua participação.