EUA ainda aposta no Brasil apesar dos navios iranianos e menciona extradição "imediata" de Bolsonaro
Apesar da "consternação" com as embarcações no Rio, o país afirmou compromisso com relação ao Brasil seria a "imediata" extradição de Bolsonaro do país
Os Estados Unidos prometeram apoiar o Brasil em seus projetos ambientais e de desenvolvimento, e extraditar "imediatamente" o ex-presidente Jair Bolsonaro em caso de pedido do governo, apesar da atracação de navios iranianos no Rio de Janeiro, que gerou críticas em Washington.
Durante uma sessão movimentada na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano nesta quarta-feira (15), o secretário adjunto de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, destacou a importância do Brasil como aliado.
Os Estados Unidos são o maior investidor externo no Brasil e, em 2024, os dois países vão comemorar 200 anos de relações bilaterais. Além disso, o Brasil representa um importante mercado, pois as importações de produtos americanos somaram quase 47 bilhões de dólares em 2021, explicou Nichols.
Depois de relações mais distantes sob o mandato de Jair Bolsonaro, Washington se propôs a aproximar os laços e, em fevereiro, o presidente Joe Biden recebeu Lula na Casa Branca.
Os dois líderes têm bastante em comum, depois que milhares de bolsonaristas atacaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, emulando, quase dois anos mais tarde, a invasão do Capitólio em Washington por simpatizantes do ex-presidente Donald Trump para impedir a certificação da vitória eleitoral de Biden.
Bolsonaro está nos Estados Unidos e já iniciou os trâmites para obter um novo visto de permanência no país, mas Nichols garante que o governo Biden não pensará duas vezes se o Brasil pedir sua extradição. Contudo, não quis comentar se havia ou não algum pedido nesse sentido.
"Temos uma relação forte com o Brasil, e vamos processar imediatamente qualquer pedido que recebermos do governo brasileiro", declarou.
O senador democrata Bob Menéndez, contudo, queria mais detalhes: "Temos um pedido de extradição pendente?", questionou.
Nichols, por sua vez, se esquivou da pergunta ao afirmar que o Departamento de Estado "não comenta se os países apresentaram ou não pedidos de extradição".
Navios iranianos
A disposição para agir com rapidez e sintonia, contudo, não impede alguns desencontros.
A atracação no Rio de Janeiro, entre os dias 28 de fevereiro e 4 de março, das embarcações iranianas Makran e Dena, que estão sob sanções dos Estados Unidos, causou "consternação" em Washington, que fez questão de demonstrá-la.
"Transmitimos nossa consternação", afirmou Nichols, que, no entanto, disse entender que o "Brasil, como nação soberana, toma suas próprias decisões de política externa".
No entanto, ressaltou que esses barcos "não têm lugar" na América Latina.
Por sua vez, o senador republicano Jim Risch replicou, afirmando que nada impede que o Irã volte a fazer o mesmo se não forem tomadas medidas.
Nesse sentido, Nichols explicou que os demais países latino-americanos "decidiram não receber os barcos" e que isso não aconteceu por "casualidade", mas porque os Estados Unidos conversaram com eles "sobre os riscos que o Irã representa".
"Uma voz de liderança"
A sintonia entre Brasília e Washington tampouco é perfeita no que diz respeito à Ucrânia.
O Brasil condenou a invasão russa, mas o Brasil se recusa a fornecer armas aos ucranianos, como Washington gostaria, e promove a concertação de um grupo de países para estabelecer uma mesa de negociação.
"O presidente Lula coloca ênfase na cooperação Sul-Sul e busca posicionar o Brasil como uma voz de liderança para a paz" na Ucrânia, afirmou Nichols.
"A Federação da Rússia é a única responsável pela guerra", mas "damos boas-vindas a todos os esforços genuínos para assegurar uma paz justa e duradoura", acrescentou, sem dizer claramente se apoia ou não a proposta de Lula.
Por outro lado, reiterou que os Estados Unidos tratam "de perto" com o Brasil os "temas da segurança alimentar global" e da busca por alternativas aos fertilizantes importados da Rússia, para "limitar a influência" de Moscou.
"Não podemos falhar"
Em relação à China, seu outro grande rival e principal parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos "aproveitam os níveis sem precedentes de investimentos" diretos no Brasil, e trabalham "em redes abertas de acesso" para competir com o 5G chinês.
Richard Duke, enviado presidencial adjunto para o clima, também compareceu à audiência da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
"Além de ser o sétimo país mais populoso do mundo, o Brasil é o sexto maior emissor de gases do efeito estufa a nível mundial", mas sua "floresta amazônica tem papel fundamental na regulação do clima global", explicou Duke.
"A verdade é que não podemos falhar. Não podemos falhar devido à importância do Brasil para o clima global, a segurança alimentar e a biodiversidade", nem tampouco para a associação estratégica entre os dois países, disse.
Porque - advertiu ele - o trabalho de décadas "para criar uma relação mais estreita com o Brasil acabou erodindo nos últimos anos", ao mesmo tempo em que "aumentava" o papel da China.