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Desinformação sobre sabonete que "restaura virgindade" preocupa médicos nas Filipinas

Influenciadora digital que recomendou o item em vídeo depois admitiu que ele a deixou com "coceira a ponto de sangrar", mas continuou promovendo-o

Sabonete Bar Bilat, uma marca de 'sabão de virgindade' não aprovada pela Administração de Alimentos e Medicamentos das Filipinas fotografado em Manila em 26 de fevereiro de 2023 - Jam Sta Rosa / AFP

A influenciadora digital filipina Rosanel Demasudlay segura um sabonete em barra no formato de coração e o exibe na frente da câmera enquanto garante a centenas de seguidores no YouTube que o item, descrito como "sabonete da virgindade", pode ser usado com segurança para "apertar" vaginas. A informação, entretanto, é enganosa. Este vídeo faz parte de uma enxurrada de postagens falsas e prejudiciais à saúde que circulam, principalmente, nas redes sociais de moradores das Filipinas.

Mesmo antes da Covid-19, já era comum no país buscar remédios online por serem mais baratos e fáceis de acessar. No entanto, durante a pandemia, a equipe de checagem de fatos da AFP observou que houve um aumento significativo de postagens enganosas envolvendo produtos cosméticos não testados e com promessas de tratamentos rápidos para doenças crônicas.

A maioria aparece em posts orgânicos ou anúncios pagos no Facebook, a plataforma de rede social mais popular entre os 76 milhões de usuários de Internet nas Filipinas.

Essas postagens podem circular por semanas ou até meses sem serem detectadas, enquanto o Facebook luta para acompanhar a torrente de desinformação.

Embora não haja verificação de postagens antes de serem publicadas, o Facebook possui um sistema de revisão em vários estágios, amplamente automatizado, para verificar os anúncios antes de serem publicados. Muitos dos vídeos, contudo, são adulterados para fazer parecer que médicos endossam os produtos mencionados — o que não é verdade. Alguns itens aparecem em reportagens falsificadas, enquanto outros são divulgados por influenciadores digitais, como foi o caso de Rosanel.

A AFP já desmentiu dezenas de alegações, incluindo uma notícia falsa nas Filipinas que parecia promover um suplemento de ervas para diabéticos como uma alternativa à insulina. Uma postagem dessa desinformação recebeu mais de 3 milhões de visualizações, 7 mil compartilhamentos e quase 10 mil comentários, muitos demonstrando interesse em comprar o produto.

No caso de Rosanel, seu vídeo de 15 minutos foi postado em agosto de 2022 e visto mais de dez mil vezes. Ela alegou falsamente que o "Bar Bilat Virginity Soap" foi aprovado pela Philippine Food and Drug Administration, a agência reguladora de alimentos e medicamentos das Filipinas, como um tratamento para problemas de pele e uma forma de apertar a vagina. ("Bilat" significa "vagina").

O que ocorreu, porém, foi o contrário. A agência alertou os consumidores contra o uso do sabonete, não autorizado, devido a possíveis riscos à saúde que variam de irritação da pele à falência de órgãos.

Alguns meses depois, a influenciadora admitiu em outro vídeo que o sabonete a deixou com "coceira a ponto de sangrar" — mas ela continuou promovendo-o. Rosanel não quis dar entrevista à AFP.

Problema mundial
Médicos filipinos preocupados com a explosão de desinformação médica durante a pandemia começaram a postar vídeos fornecendo informações gratuitas sobre problemas de saúde comuns. A boa intenção, por outro lado, resultou num novo problema. Os propagadores de tratamentos espúrios usaram trechos desses vídeos e os tiraram de contexto, inserindo-os em suas próprias postagens para passar uma imagem de credibilidade.

Geraldine Zamora, uma reumatologista da capital Manila, estava entre os alvos. Em 2020, ela começou a gravar vídeos e postá-los no TikTok, onde possui mais de 60 mil seguidores.

"Foi bom para nós porque pudemos estender nosso conhecimento médico a pessoas que de outra forma não poderiam consultar médicos" disse Zamora.

Seus vídeos foram assistidos centenas de milhares de vezes, mas então a filmagem foi usada para promover uma marca não registrada de suplemento para artrite, sobre a qual o FDA alertou os consumidores. As postagens manipuladas foram vistas dezenas de milhares de vezes antes de serem retiradas do ar pelo Facebook.

Zamora disse que alguns de seus pacientes consideraram comprar o produto acreditando que ela o endossava.

A Organização Mundial da Saúde disse à AFP que "promoções e anúncios inadequados" de produtos médicos não registrados há muito são um problema global e a pandemia pode ter piorado.

Os filipinos são particularmente vulneráveis a alegações de saúde falsas ou enganosas devido à escassez de médicos no país e ao uso intenso da internet, disse Eleanor Castillo, especialista em saúde pública da Universidade das Filipinas.

"Mesmo que tenhamos nossas unidades de saúde rurais ou centros de saúde nas aldeias, muitos deles não têm médicos ou visitam uma vez por semana ou duas vezes por mês, especialmente em áreas distantes" disse Castillo.

As consequências do uso de tratamentos não aprovados podem ser terríveis.

Crianças ficaram cegas por usarem colírios sem prescrição médica
Vicente Ocampo, presidente da Academia Filipina de Oftalmologia, disse que pacientes de até 12 anos ficaram cegos depois de usar colírios comprados online em vez de consultar um médico.

"Entristece-nos que as pessoas acreditem prontamente em anúncios que afirmam curar todos os problemas oculares o mais rapidamente possível e paguem preços exorbitantes por esses colírios" disse Ocampo.

Ocampo disse que postagens no Facebook vendiam uma marca de colírios não registrada que usava imagens de médicos reais e o nome da academia. A academia, entretanto, lutou para ganhar força com seus alertas sobre a desinformação. Seu comunicado emitido em setembro de 2022 notificando os consumidores sobre as postagens falsas recebeu 57 interações — curtidas, compartilhamentos e comentários. No mesmo mês, quatro anúncios do produto analisados pelos verificadores de fatos da AFP receberam quase 34 mil interações.

A AFP tem uma equipe global de jornalistas que desmascaram a desinformação como parte do programa terceirizado de checagem de fatos da Meta, empresa controladora do Facebook. Pesquisadores de cerca de 80 organizações, incluindo meios de comunicação, verificam postagens no Facebook, WhatsApp e Instagram.

Algumas das postagens médicas virais que a AFP desmentiu no Facebook eram anúncios pagos. A política de anúncios da Meta proíbe quaisquer "promessas ou sugestões de resultados irrealistas" para "saúde, perda de peso ou oportunidade econômica".

A empresa diz que os anúncios de medicamentos de venda livre devem estar em conformidade com as licenças e aprovações exigidas pelas leis locais. No entanto, pesquisas de palavras-chave na biblioteca de anúncios da Meta encontraram centenas de anúncios de produtos desmascarados pela AFP ainda no site. A Meta disse à AFP que está trabalhando com a polícia filipina "para lidar" com listagens comerciais ilegais.