BCE aumenta suas taxas em 0,5 ponto, apesar das turbulências bancárias
Mercados não descartavam a possibilidade de uma alta de 0,25 ponto percentual
O Banco Central Europeu (BCE) voltou a aumentar, nesta quinta (16), suas principais taxas de juros em 0,5 ponto percentual, para combater a inflação, julgando que os bancos da zona do euro são sólidos e "resilientes", apesar das turbulências que afetam o setor.
No entanto, os guardiões do euro se mostraram prudentes e não mencionaram, como haviam feito até agora, a necessidade de seguir aumentando as taxas de maneira "significativa".
O BCE está imerso, desde o último verão, em uma política de aumento de taxas sem precedentes, mas desde a semana passada surgiram dúvidas sobre sua determinação de mantê-la devido à quebra do banco americano Silicon Valley Bank (SVB) e às preocupações pela situação do Credit Suisse.
Os mercados não descartavam a possibilidade de uma alta de 0,25 ponto percentual, menor do que a inicialmente prevista e anunciada no mês passado pelo próprio banco.
Agora, as taxas de juros do banco emissor da zona do euro estão entre 3% e 3,75%, o maior nível desde outubro de 2008.
"O BCE mantém o rumo [...], pois qualquer sobressalto seria interpretado como uma debilidade", apontou Jens Oliver Niklasch, do banco LBBW.
Menos inflação e mais crescimento
"A prudência pedia que se fizesse uma pausa [no endurecimento da política monetária] e que os aumentos fossem retomados mais tarde, porém o BCE poderia julgar que sua credibilidade em relação à luta contra a inflação, já em mau lugar, não pode permitir", destacaram analistas da ING antes da reunião
Antes da escalada dos preços após a ofensiva russa na Ucrânia, o BCE iniciou em julho um ciclo sem precedentes de altas nas taxas, pondo fim a quase uma década de dinheiro barato.
Este endurecimento, realizado por todos os grandes bancos centrais para aumentar o custo do crédito e frear a subida dos preços, também contribuiu para enfraquecer os bancos comerciais.
Porém, a batalha contra a inflação está longe de terminar.
Os preços da zona do euro caíram em fevereiro pelo quarto mês consecutivo, até 8,5% no ano. No entanto, a chamada inflação subjacente, que exclui a energia e os alimentos, subiu de novo até 5,6%, um recorde.
Em suas previsões publicadas nesta quinta, o BCE apontou que a inflação na zona do euro, formada por 20 dos 27 países da União Europeia (UE), deveria ser menor e sua taxa de crescimento maior do que o previsto em 2023.
Essa melhora se deve a um menor impulso dos preços da energia e a uma "melhor resistência da economia".
A inflação da zona do euro deveria alcançar 5,3% em 2023, frente ao 6,3% previsto no final de dezembro, e cair a 2,9% em 2024 e a 2,1% em 2025.
E o PIB deveria crescer 1% neste ano - em comparação a 0,5% que previa-se até agora e 1,6% em 2024 e 2025.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, pediu aos governos da zona do euro que "comecem rapidamente a reduzir" os subsídios orçamentários a casas e empresas, pois os preços da energia estão baixando, para evitar "aumentar a pressão inflacionária a médio prazo".
Prudência nas bolsas
Após o anúncio do Credit Suisse de que recorreu ao banco central suíço para obter créditos de 50 bilhões de francos suiços (50,7 bilhões de euros, 53,7 bilhões de dólares), os mercados mostraram força na abertura, após as fortes quedas de quarta-feira (15).
No entanto, as principais bolsas europeias limitaram seu entusiasmos durante o dia. Até às 10H35, Paris subia 0,42%, Frankfurt 0,05%, Londres 0,08%, Madri 0,32% e Milão 0,16%.
Em Nova York, Wall Street abriu no vermelho:o índice industrial Dow Jones inciou com uma perda de 0,56%, Nasdaq, de componente tecnológico, caía 0,37% e o S&P 500 0,49%.