Música

O barato da Bala Desejo: conheça a banda sensação da nova música brasileira

Grupo retornou a Pernambuco como grande atração da festa Odara Ôdesce, no Recife, na última sexta (17), e concedeu entrevista exclusiva para Folha de Pernambuco

Bala Desejo foi uma das atrações da festa Odara Ôdesce, na última sexta (17) - Divulgação / Leko Moura


Em meio à tragédia e ao luto causado pela pandemia da Covid-19, podemos citar ao menos uma coisa positiva dessa crise sanitária no Brasil: o surgimento da promissora Bala Desejo, banda formada durante o confinamento, quando Zé Ibarra, Lucas Nunes Dora Morelenbaum e Julia Mestre decidiram dividir um apartamento em Copacabana. Com uma carreira em franca ascensão, o grupo retornou a Pernambuco como grande atração da festa Odara Ôdesce, no Recife, na última sexta (17), econcedeu entrevista exclusiva para a Folha de Pernambuco.

“Sem dúvida alguma, já tínhamos uma boa relação individualmente com a cidade, mas dessa vez a química rolou. Recife é um dos lugares mais encantadores do Brasil, a energia, as pessoas, o peso cultural que recai sobre tudo o que acontece aí. É um fenômeno que chamam de cidade, tem cidades que tem uma alma muito clara e visível e Recife com certeza é uma dessas”, destacaram os integrantes da banda, em resposta assinada coletivamente. 

Do isolamento ao abraço do público
Depois de resolverem morar juntos durante o isolamento social, idealizaram o projeto e fizeram sucesso em participações nas lives de Teresa Cristina. Com o adiamento do convite para o show que fariam no Coala Festival pelas restrições sanitárias, a banda decidiu gravar seu primeiro álbum “Sim, Sim, Sim”, em um um sítio na cidade de Barbacena (MG). Na bagagem musical, cada integrante trazia uma trajetória individual na música. Zé Ibarra e Lucas Nunes na Banda Dônica; Dora Morelenbaum com a Zanzibar; e Julia Mestre que preparava um álbum para sua carreira solo. 

Lançado em duas partes (lados A e B), faz\endo alusão os antigos LPs, o álbum teve produção musical da própria banda, coprodução de Ana Frango Elétrico e supervisão de Marcus Preto, produtor e diretor artístico dos últimos projetos da cantora Gal Costa. Em pouco tempo, “Sim Sim Sim” se consagrou como um sucesso de crítica e de público e faturou, em novembro de 2022, o Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum Pop em Português”, dando ainda mais projeção ao grupo.

Talentos e astros alinhados
Diversos fatores contribuíram para que a reunião de artistas tão particulares se traduzisse no sucesso da banda recém criada. “De certa forma "surgimos" como Bala Desejo durante a pandemia da Covid, mas antes, e há um bom tempo já vínhamos trabalhando em projetos paralelos. A Dônica (ex-banda minha e do Lucas) que na sua época já teve uma boa repercussão no Brasil, a Júlia com seu trabalho solo e Dora com seu EP já vinham preparando o terreno. Eu e Lucas também tivemos a grande exposição ao lado do Milton e do Caetano que nos colocou de certa maneira sobre os faróis do público”, lembra Zé Ibarra. 

“Além disso vivemos desde sempre inseridos num meio muito propício, que nos ajudou muito na hora que resolvemos seguir essa trajetória e realmente fazer música. É uma conjunção de fatores entre sortes e trabalho feito que nos fez ter esse rápido reconhecimento, mas acima de todos esses motivos, sinto que o caráter do nosso álbum foi a razão principal para a aceitação imediata. Canções populares, com melodias simples e diretas, com letras que comunicam sem rodeios com as pessoas e claro, um disco dançante. Essa de fato foi a chave para que a coisa acontecesse”, definem.

Bala Desejo foi a grande atração da noite na festa Odara Ôdesce, no Armazém 14, na última sexta-feira (17)

Tropicalismo do futuro
A influência da música dos anos 70 e dos movimentos que revolucionaram a cultura brasileira como o tropicalismo são evidentes na estética da banda. E a construção desse interesse é antiga, segundo a banda. “Veio muito de quem somos individualmente. Nós quatro temos uma amizade de uns 15 anos, sempre baseada principalmente na música. Quando a gente se encontrou para compor as canções do bala, já existia uma linguagem musical que não dialogava apenas com os anos 70.  Acho que essa sonoridade acabou se formando principalmente pelos modos que direcionamos o processo de composição e gravação”, explicaram. 

O estilo musical da Bala Desejo é acompanhado pelos figurinos, que já se tornaram uma marca da banda. Os integrantes garantem que não estão compondo personagens, mas suas roupas refletem quem realmente são. “Buscar o novo tem mais haver com a autenticidade do que modernidade propriamente dita. Com certeza qualquer referência de décadas passadas podem ser adaptadas para hoje de modo que seja autêntico. Nós tentamos acompanhar tudo. Achamos muito importante ouvir, sempre. Esses personagens não existem, ali somos o que somos. As croppeds, saias, os brilhos vieram da gente, acompanhados com ideais e inputs criativos de figurinistas que trabalham conosco”, comentam.