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Boris Johnson defende seu futuro em audiência no Parlamento sobre "Partygate"

O ex-primeiro-ministro britânico é acusado de promover festas durante o período de confinamento da Covid-19

Boris Johnson defende seu futuro em audiência no Parlamento sobre "Partygate" - PRU / AFP

O polêmico ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson mobiliza, nesta quarta-feira (22), suas habilidades de sobrevivência política em um interrogatório de alto risco para seu futuro, ante uma comissão que investiga se ele mentiu, intencionalmente, ao Parlamento sobre o escândalo chamado "Partygate".

"Estou aqui para dizer com a mão no coração que não menti para a Câmara", afirmou Johnson.

"Quando fiz essas declarações, fiz de boa fé e com base no que honestamente sabia e acreditava na época", disse ele durante a sessão de três horas e quinze minutos, transmitida ao vivo pela televisão, na qual aparentou estar tenso, sem seu característico senso de humor.

 

Em sua defesa por escrito, publicada na véspera, Boris argumenta que seus assessores haviam-lhe assegurado que nenhuma norma havia sido infringida durante as inúmeras “reuniões de trabalho” realizadas em seus escritórios no número 10 da Downing Street, sede do Poder Executivo, durante os confinamentos impostos em meio à pandemia da Covid-19.

"Quem pensa que estávamos em festa durante o confinamento simplesmente não sabe do que está falando", rebateu.

Johnson explicou que em um ambiente de trabalho intenso, com intermináveis jornadas de trabalho para controlar a pandemia, era "impossível" manter dois metros de distância entre as pessoas no edifício antigo com corredores estreitos e salas pequenas.

As medidas de distanciamento social foram seguidas "na medida das nossas possibilidades", declarou.

Também defendeu que havia um "fotógrafo oficial" registrando encontros como comemorações de Natal ou despedidas de funcionários e que seria "ridículo" fazê-lo se fossem festas ilegais.

E que se fosse "óbvio" para ele que eram, também teria sido para outros funcionários de alto escalão presentes, incluindo o atual primeiro-ministro, Rishi Sunak, então ministro das Finanças.

"Não acho que eles queiram acusar os responsáveis de mentir ou me acusar de mentir", disse ele à presidente da comissão, a trabalhista Harriet Harman.

Eventual retorno político

Johnson foi forçado a renunciar em julho, após uma série de escândalos, incluindo este apelidado de "Partygate" pela imprensa.

Desde dezembro de 2021, o ex-premiê garantiu aos deputados, em várias ocasiões, que as regras que ele mesmo impôs contra uma pandemia que deixou 220 mil mortos no Reino Unido foram respeitadas "em todos os momentos" em seus gabinetes.

Mas acabou admitindo sua "responsabilidade" quando uma investigação interna denunciou os "erros de liderança e julgamento" dos "altos funcionários" envolvidos em reuniões regadas a álcool e marcadas por falta de decoro.

O político de 58 anos, que por décadas conseguiu resistir a incontáveis crises políticas, foi afastado por seu próprio Partido Conservador por nomear um parlamentar acusado de abuso sexual. O que para muitos foi a gota d'água em três conturbados anos no poder.

Seus aliados, porém, denunciam uma traição e lutam por seu retorno político antes das próximas eleições gerais, que devem acontecer em janeiro de 2025.

No entanto, se a comissão de inquérito decidir que ele mentiu intencionalmente, poderia recomendar uma sanção que acabaria com estes planos.

Ele "permitiu que continuasse"

Ao final da investigação, ainda sem data prevista, toda a Câmara dos Comuns votará uma possível suspensão do cargo de deputado e, se o período for superior a 10 dias, pode levar a eleições antecipadas no distrito eleitoral de Johnson, no noroeste de Londres, que o deixariam fora da disputa.

Um relatório provisório da comissão apurou que o ex-primeiro-ministro deveria ter visto que as medidas sanitárias estavam sendo descumpridas em seus gabinetes.

O documento também divulgou fotos inéditas e mensagens de WhatsApp em que seus assessores tentavam encontrar justificativas públicas para as festas.

As evidências também incluem uma declaração de um funcionário de Downing Street de que Johnson "muitas vezes via e se juntava" a essas reuniões durante o lockdown e "tinha a oportunidade de interrompê-las".

"Ele viu o que estava acontecendo e permitiu que continuasse", acrescentou.