Artes Visuais

Exposição celebra 15 anos de carreira de Jonathas de Andrade e a relação do artista com Pernambuco

"Na Cidade da Ressaca", que entra em cartaz no Mamam, pode ser vista até o dia 18 de junho

Jonathas de Andrade - Uhgo/Divulgação

Natural de Maceió, em Alagoas, Jonathas de Andrade nasceu como artista no Recife. Esse território carregado de belezas e contradições, onde ele reside e trabalha há mais de duas décadas, inspira um universo criativo que vem ganhando cada vez mais destaque e reconhecimento dentro e fora do País.

"Na Cidade da Ressaca", exposição que passa a ocupar o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM) a partir desta quinta-feira (23), marca essa relação de troca entre o artista alagoano e a terra que ele escolheu como morada. A mostra também celebra os 15 anos de carreira de Jonathas, reunindo algumas de suas obras mais representativas, com curadoria de Moacir dos Anjos.

"Moacir faz parte da minha trajetória desde o início. A primeira exposição da qual participei teve curadoria dele. Então, faz todo sentido para mim estar com ele nesse mostra, que é uma oportunidade de retrospectiva e de fazer uma devolução ao lugar que acolheu os meus projetos", comenta o artista, em entrevista à Folha de Pernambuco.
 

Os trabalhos em vídeo, fotografia e instalação presentes na exposição já passaram por eventos em diversos países, como a 59ª Bienal de Arte de Veneza, no ano passado. Muitas dessas criações, no entanto, ainda são inéditas em Pernambuco. Embora a curadoria percorra diferentes eixos temáticos, a ligação com o Estado é um elemento predominante.

Para além do território
"A ideia foi pensar obras que tivessem sido idealizadas a partir desse mesmo território. Já na entrada, há obras que tratam de uma ressaca para além da bebedeira. É um estado de espírito que parece ser constante nessa região", explica Jonathas, que traz em seu trabalho um olhar de reflexão sobre questões sociais, políticas e históricas.

"Sempre fiquei muito impressionado com os antagonismos que acontecem no Recife. É uma cidade marcada tanto pela potência como pela ruína. Isso se manifesta na paisagem, na arquitetura, no dia a dia e na cultura", pontua.

Obras como "Ressaca Tropical" (2009) e "Recenseamento moral da cidade do Recife (2008)", da fase inicial do artista, representam bem o sentimento manifestado por Jonathas. A perpetuação de uma memória colonial em trabalhos como "Museu do Homem do Nordeste" (2013) e "Nostalgia, sentimento de classe" (2012).

Revisão de processos
Os processos colaborativos e a autorrepresentação são elementos presentes em vídeos como "Olho da Rua" (2022) e "Teatro das Heroínas de Tejucupapo e A Batalha de Todo Dia de Tejucupapo (2022)". Transitando entre o documental e a ficção, tais trabalhos experimentam colocar seus elencos - formados por pessoas comuns - em posição de protagonismo.  

Para Jonathas, a exposição surge como uma oportunidade de fazer uma revisão dos seus processos criativos. "É um momento muito ímpar de ver quais interesses continuaram, quais estratégias narrativas, plásticas e materiais se transformaram e quais formas foram se sedimentando como uma maneira minha de contar uma história. Eu acho que o desafio é, de algum jeito, me revisar criticamente e tentar apontar para os próximos anos", reflete.

A abertura de "Na Cidade da Ressaca" ocorre às 19h desta quinta-feira (23), com show de Nega do Babado e Cheila, da banda Swing do Pará. As visitações podem ser feitas de sexta-feira (24) até 18 de junho, com entrada gratuita.

Serviço:
Exposição "Na Cidade da Ressaca", de Jonathas de Andrade
Abertura nesta quinta-feira (23), às 19h, e visitação de amanhã a 18 de junho, de quarta a sexta-feira, das 10h às 17h; sábados e domingos, das 10h às 16h
No MAMAM (Rua da Aurora, 265, Boa Vista)
Entrada gratuita