"Doente pelo Náutico": torcedor tem duas arritmias cardíacas entre jogos do time do coração
Rodrigo Marcos Miranda Cavalcanti, de 40 anos, estudou um dos times adversários diretamente do hospital
Doente pelo Náutico. É assim que o torcedor Rodrigo Marcos Miranda Cavalcanti, de 40 anos, se autodenomina com orgulho. Mas somente há pouco mais de um mês foi que essa frase se tornou uma realidade na vida dele, que enfrentou duas arritmias cardíacas entre os jogos do time do coração.
A partir disso, ele descobriu que tem fibrilação atrial crônica, uma deficiência elétrica do coração, que sofre ainda mais influência por fatores como ansiedade e estresse. Esse quadro clínico pode ser revertido por meio de uma ablação via cateterismo.
Em Rodrigo, a primeira arritmia aconteceu dia 11 de fevereiro, data em que o Náutico recebeu o Sport no Estádio dos Aflitos, pelo Campeonato Pernambucano. O jogo terminou empatado em 2 a 2.
“Eu sabia que ia ter jogo, mas tínhamos um aniversário pra ir. Fui trabalhar e comecei a me sentir mal. Acho que um pouco da ansiedade do jogo tenha influenciado. Talvez até o fato de eu ter decidido não ir, porque se eu estiver lá, não estou tão preocupado”, disse de início.
Ele estava na hamburgueria em que é sócio quando foi alertado pelo relógio sobre o que estava acontecendo. “O meu relógio acendeu e me mostrou que o ritmo sinusal não estava normal. Comecei a sentir uma palpitação forte e fiquei cansado”, rememorou.
Nos primeiros minutos no hospital, ele ainda não fazia ideia do que estava acontecendo. “Eu achava que eu ia aferir a pressão e controlar os batimentos e que ainda iria para o aniversário, mas então vi a médica um pouco assustada e me preocupei”, comentou.
A preocupação da médica não foi em vão. Rodrigo precisou ficar internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) cardiológica. “A minha pressão estava alta e eu tive que ficar numa cadeira de rodas. O meu batimento chegou a 200, o que é um absurdo. Fiz exames de sangue para ver as enzimas e saber se era um infarto”, afirmou.
Ele deixou a UTI na tarde da quarta-feira, mas permaneceu internado. A alta médica aconteceu no dia seguinte. Ele voltou para casa acompanhado de remédios, e com um compromisso especial: comemorar o aniversário de dois anos do filho Eduardo Cavalcanti no sábado.
O diagnóstico ainda não havia sido “fechado”, mas ele já carregava uma suspeita de duas cores no peito. “Acho que o Náutico tem total influência nisso, porque os jogos do Náutico me deixam muito tenso e eu fico ansioso. A minha vida toda foi assim”, garantiu.
No primeiro dia deste mês, Rodrigo e o Náutico outra vez estiveram ligados, mesmo com mais de 2.600 quilômetros de distância do Recife. O Timbu enfrentou o time do São Bernardo, pela Copa do Brasil, enquanto o torcedor estava na ‘terra da garoa’ por um compromisso de trabalho. Com agenda e horário batendo, ir ao jogo também se tornou uma obrigação para ele.
“Foi ótimo. Eu estava em São Paulo a trabalho e fui para o jogo. Eu estava tomando remédio e foi tudo tranquilo”, salientou.
Ambos retornaram para casa satisfeitos e partilhando a sensação de terem ganho na loteria. Rodrigo, com a vitória. O clube, com R$ 900 mil a mais nos cofres, pelo placar de 1 a 0 que garantiu o avanço na disputa nacional.
O susto havia sido superado e o coração, com auxílio de remédios, já estava mais tranquilo. Era o que Rodrigo achava àquela altura. Mas bastou a adrenalina de um outro clássico para o cenário sofrer alteração.
Três dias depois, o Alvirrubro novamente recebeu o Rubro-negro, mas pela Copa do Nordeste. Em campo, o Timbu levou a pior, perdendo por 2 a 0. Ali, a tristeza era a única reação presente no corpo de Rodrigo.
Mas tudo mudou no dia seguinte, quando uma nova arritmia aconteceu e ele precisou de maiores cuidados. O relógio foi quem avisou outra vez.
“Eu estava dormindo com o meu filho e o relógio começou a vibrar em um ritmo diferente e acender, aí apareceu a fibrilação atrial”, relembrou.
Outra vez Rodrigo precisou ir ao hospital. Ele recebeu cloridrato de amiodarona e realizou mais exames, na tentativa de chegar a um diagnóstico. Enquanto a equipe médica buscava respostas, Rodrigo aproveitou para estudar, diretamente do hospital, o próximo adversário, que seria o Vila Nova.
“Minha maior tristeza foi não ter ido para esse jogo contra o Vila Nova. Eu queria muito ter ido, porque foi o jogo mais importante do ano. Financeiramente, uma saída para o clube ‘salvar’ a folha de pagamento do mês”, refletiu.
“Assisti a esse jogo com medo de ter um problema”, confessou o torcedor, que vai realizar no início do próximo mês uma ablação via cateterismo para fortalecer o coração e conseguir acompanhar o cronograma de jogos do Náutico saudável, apesar de continuar se autodenominando um "torcedor doente”.