PRESSÃO

No Nordeste, Lula silencia sobre atentado a Moro

Palácio do Planalto montou uma operação para tentar conter a repercussão negativa

"Nós precisamos reagir às ações do crime organizado", afirmou Moro - Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Na passagem, ontem, pelo Nordeste, entre a Paraíba e Pernambuco, o presidente Lula (PT) não deu um pio sobre a operação da Polícia Federal destinada a prender integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) que planejavam sequestrar e matar o ex-juiz e agora senador Sérgio Moro (UB-PR). Também não explicou declarações de que queria “foder” Moro, dadas ao site 427 no dia anterior à operação da PF.

Enquanto Lula esteve no Nordeste, temendo o impacto das declarações de Lula e da ação da PF, o Palácio do Planalto montou uma operação para tentar conter a repercussão negativa. O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), convocou às pressas uma coletiva de imprensa para declarar que as tentativas de associar o presidente às ações de grupos criminosos são “perversas” e “fora de propósito”.

Pimenta chamou os jornalistas para apresentar a versão do governo com apenas 15 minutos de antecedência e foi acompanhado de ao menos cinco assessores. A reação veio após o governo detectar que bolsonaristas estavam explorando o episódio nas redes. Antes de Pimenta vir a público, o ministro da Justiça, Flávio Dino, também fez questão de desvincular a fala de Lula da operação da PF contra a organização criminosa de São Paulo.

“Tentar, como algumas pessoas estão tentando estabelecer um vínculo entre essa declaração e a operação conduzida pela PF é algo absolutamente fora de propósito e serve evidentemente para a disputa política”, afirmou Pimenta. “Querer fazer esse vínculo é uma estratégia perversa e mais uma forma de estabelecer uma relação de questionamento das instituições, que enfraquece a democracia e que deve ser repudiada”, argumentou o ministro.

Moro está entre os políticos que reagiram à fala de Lula, assim como têm feito os parlamentares que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista à CNN, o senador disse temer risco a seus familiares após a fala de Lula. “Repudio veementemente, acho que o presidente feriu a liturgia do cargo por utilizar esse palavreado de baixo calão e simplesmente a gente tem que questionar quando isso é utilizado como forma de desviar o foco dos fracassos do governo federal”, afirmou.

O ministro da Secom tentou minimizar as declarações de Lula, alegando ser apenas uma manifestação de quem esteve preso e se sentiu injustiçado. “A manifestação do presidente Lula foi uma manifestação em que ele relatou o sentimento de injustiça e indignação. Absolutamente natural e compreensível que alguém que ficou 580 dias detido numa solitária e que depois teve todos os seus processos anulados”, argumentou. “Portanto, a manifestação do presidente Lula tem que ser compreendida dentro do contexto em que ele relata o momento que ele estava vivendo”, prosseguiu.

Em pronunciamento na tribuna do Senado, Sérgio Moro pregou que a classe política e os órgãos de investigação não podem se 'render' ou 'retroceder' a ameaças e devem adotar 'políticas rigorosas' de combate às facções criminosas. "Se eles vêm pra cima da gente com uma faca, a gente tem que usar um revólver. Se eles usam um revólver, nós temos que ter uma metralhadora. Se eles têm uma metralhadora, nós temos que ter um tanque ou um carro de combate. Não no sentido literal, mas nós precisamos reagir às ações do crime organizado", afirmou.

Moro se disse 'alarmado' com a escalada do crime organizado no País e aproveitou para tentar articular a retomada de bandeiras previstas na versão original do seu 'pacote anticrime' - conjunto de medidas apresentadas quando ele ocupava a cadeira de ministro da Justiça.