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Putin anuncia que Rússia vai posicionar armas nucleares táticas em Belarus

O líder russo já havia feito, anteriormente, ameaças veladas de usar armamento nuclear na Ucrânia, reativando temores da Guerra Fria

Vladimir Putin - Mikhail Metzel / SPUTNIK / AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou, neste sábado (25), que Moscou prevê instalar armas nucleares "táticas" no território de Belarus, um país aliado que faz fronteira com a Ucrânia e países da União Europeia (UE).

O líder russo já havia feito, anteriormente, ameaças veladas de usar armamento nuclear na Ucrânia, reativando temores da Guerra Fria.

Putin também ameaçou ordenar o uso de obuses de urânio empobrecido na Ucrânia se este país receber esse tipo de arma do Ocidente, depois que uma vice-ministra do Reino Unido mencionou essa possibilidade.

"Aqui não há nada inédito: os Estados Unidos fazem isso há décadas. Eles têm suas armas nucleares táticas posicionadas há muito tempo em território de seus aliados", declarou Putin em uma entrevista exibida pela televisão russa.

"Nós decidimos fazer o mesmo", acrescentou, garantindo que contava com o aval do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko.

"Sem violar nossos acordos internacionais de não proliferação nuclear (...), dez aviões estão prontos para usar este tipo de armas", afirmou.

Putin ressaltou que a Rússia já tinha entregue a Belarus um sistema Iskaner de mísseis balísticos com capacidade para transportar ogivas nucleares.

A Rússia começará a treinar tripulações em 3 de abril e planeja terminar a construção de uma instalação de armazenamento especial para armamento nuclear tático em 1º de julho.

Belarus faz fronteira com Letônia, Lituânia e Polônia, três países da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

- As armas "mais nocivas" -

Ao se referir à questão dos obuses de urânio empobrecido, Putin destacou que a Rússia dispõe de um arsenal considerável desse tipo de arma.

"A Rússia, é claro, tem com o que responder. Temos, sem exagero, dezenas de milhares desses obuses. No momento, não os usamos", declarou.

A vice-ministra da Defesa do Reino Unido, Annabel Goldi, disse na segunda-feira que seu país planejava entregar à Ucrânia obuses "com urânio empobrecido", que são "muito eficazes para destruir tanques e veículos blindados modernos".

Um dia depois, a organização antinuclear britânica Campaign for Nuclear Disarmament advertiu que seu uso provocaria um "desastre ambiental e sanitário adicional para os que estão no centro do conflito" na Ucrânia.

O uso de munições de urânio empobrecido implica riscos de caráter tóxico para os militares e a população das áreas onde é usado.

Putin insiste em que a Rússia responderá se a entrega for feita. Estas armas "podem ser classificadas como as mais nocivas e perigosas para os humanos (...) e para o meio ambiente", ressaltou.

- Ameaça nuclear acentuada -

No mês passado, a Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN, na sigla em inglês), ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, advertiu que o risco de uso de armas nucleares se acentuava com o prolongamento do conflito na Ucrânia, que começou há 13 meses.

Putin suspendeu, em fevereiro, a participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear Novo START, que havia firmado com os Estados Unidos, e acusou os países ocidentais de "atiçarem" o conflito na Ucrânia.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, lamentou essa decisão, ao lembrar que se tratava do último acordo bilateral entre Rússia e Estados Unidos em matéria de desarmamento nuclear.

"Mais armas nucleares e menos controle de armas tornam o mundo mais perigoso", afirmou.

A Rússia já havia suspendido, em agosto do ano passado, as inspeções de suas instalações nucleares pelos Estados Unidos, que estavam previstas no Novo START.

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, anunciou no sábado que vai visitar na próxima semana a usina nuclear iraniana de Zaporizhzhia (sudeste) que, segundo ele, está em situação "precária".

Esta será a segunda visita de Grossi à usina, a maior da Europa, desde a ocupação de suas instalações pelas tropas russas no início do conflito. O objetivo da visita é "avaliar diretamente a gravidade da situação de segurança nuclear no local", afirmou.