Cúpula

Biden faz 2ª Cúpula pela Democracia em meio a preocupações com Rússia e China

Presidente americano convidou 121 líderes mundiais

Biden elegeu os líderes de Zâmbia, Costa Rica, Coreia do Sul e Holanda como coanfitriões. - Andrew Harnik / POOL / AFP

Após uma primeira edição em 2021, o presidente Joe Biden, que prometeu restaurar a liderança americana após a era Trump, será o anfitrião de uma nova Cúpula pela Democracia, tendo agora como pano de fundo a ofensiva russa na Ucrânia e os temores pela projeção da China.

Para esta segunda edição, em grande parte no formato virtual e de três dias de duração, o presidente americano convidou 121 líderes mundiais, oito a mais do que há dois anos.

E, para evitar qualquer acusação de egocentrismo dos EUA, Biden elegeu os líderes de Zâmbia, Costa Rica, Coreia do Sul e Holanda como coanfitriões.

A cúpula será realizada em um contexto de crescente autoritarismo em todo o mundo e de ameaças à democracia, inclusive nos Estados Unidos, com o assalto de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio, durante o mandato de Donald Trump.

“O que antes era percebido como uma ameaça importante, mas mais ou menos de longo prazo, agora adquiriu um caráter muito importante e de extrema urgência”, disse Marti Flacks, do Center for Strategic and International Studies (CSIS), um "think tank" de Washington.

As sessões vão contar com representantes da sociedade civil para debater diversos desafios à democracia, inclusive no campo tecnológico, no momento em que países ocidentais acusam a rede TikTok de servir de ferramenta de espionagem para o governo chinês.

Evitar líderes autoritários

A cúpula começará com uma conversa virtual sobre a paz na Ucrânia com o presidente Volodomir Zelensky. Na primeira edição, ele não era o líder em tempos de guerra em que se transformou, após a invasão russa lançada em fevereiro de 2022.

Embora Biden tenha mantido seu compromisso de defesa da democracia e renovado as alianças dos Estados Unidos, ele decepcionou muitos ativistas ao se aproximar de líderes acusados de excessos autoritários e com antecedentes questionáveis de direitos humanos.

No ano passado, Biden viajou para a Arábia Saudita, reconhecendo o papel do reino nos mercados de petróleo, e para o Egito, para participar da cúpula do clima COP27. Também reacendeu os laços de trabalho com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Nenhum desses três países foi convidado para a cúpula desta vez, uma crítica implícita, especialmente no caso de Erdogan. Ele disputa a reeleição em 14 de maio, após duas décadas no poder.

E, entre os Estados da União Europeia, o único a não ser convidado foi a Hungria. Seu primeiro-ministro, Viktor Orban, conquistou um quarto mandato no ano passado e foi acusado de se desviar dos valores liberais, ao tomar medidas drásticas contra a imprensa, ao denunciar refugiados não europeus e ao falar a favor de Moscou.

Tampouco convidou Singapura, cujas eleições são geralmente consideradas livres, mas que limita a liberdade de reunião e regula a imprensa. Bangladesh também ficou de fora. Lá, centenas de pessoas foram presas no âmbito da Lei de Segurança Digital.

Honduras, convidada pela primeira vez

O Departamento de Estado se negou a discutir os critérios do convite.

Uma porta-voz da diplomacia americana disse, no entanto, que o objetivo do governo para essa cúpula "é ser inclusivo e ter uma lista representativa e diversificada de países em nível regional e socioeconômico".

"Não estamos buscando definir quais países são e quais não são democracias", afirmou.

Na América Latina, Biden convidou pela primeira vez Honduras. O país foi elogiado por uma melhor condução, por parte de suas autoridades, das eleições de 2021, apesar da violência persistente e de seu recente rompimento com Taiwan para ter relações diplomáticas com a China.

Anunciada como a maior democracia do mundo, a Índia está na lista de participantes dias depois de o líder da oposição Rahul Gandhi ter sido expulso do Parlamento — a última medida do primeiro-ministro Narendra Modi que alarmou grupos de direitos humanos.

O vizinho e arquirrival Paquistão, onde Imran Khan foi deposto no ano passado como primeiro-ministro e posteriormente indiciado, também está entre os convidados.

E, no momento em que os Estados Unidos se concentram na África, onde a China e a Rússia têm feito avanços, cinco países africanos ausentes em 2021 foram convidados: Tanzânia, Costa do Marfim, Gâmbia, Mauritânia e Moçambique.