ARTE

Diretora de museu onde está Davi, obra de Michelangelo, critica quem chama obra de pornografia

Cecilie Hollberg classificou medida como "puritanismo inapropriado"

Diretora de museu onde está Davi, de Michelangelo, chamado de "pornografia", critica atitude e classifica medida como ação de "mente distorcida" - Patrick Hertzog / AFP

A diretora do museu italiano que abriga a obra "Davi", de Michelangelo, denunciou, nesta segunda-feira (27), o que chamou de "mente distorcida" daqueles que conseguiram, nos Estados Unidos, a demissão de uma professora que exibiu imagens da escultura, famosa por sua beleza e nudez.

"Existe uma grande diferença entre nudez e pornografia", afirmou Cecilie Hollberg, diretora da Galeria da Academia de Florença, em entrevista à AFP. "Realmente, é preciso ter uma mente distorcida para confundir" os dois conceitos, acrescentou, ao comentar o caso da professora que mostrou a obra a seus estudantes.

O caso repercutiu na Itália depois que a imprensa americana noticiou a demissão de Hope Carrasquilla, diretora e professora de uma escola em Tallahassee, capital da Flórida. Ela precisou renunciar ao cargo por ter exibido a seus alunos, com idades entre 11 e 12 anos, imagens da escultura famosa, dedicada ao herói bíblico, executada por Michelangelo Buonarroti entre 1501 e 1504.

"Quem está preocupado (com a nudez de Davi) tem um problema grave com as raízes da cultura ocidental", reagiu Cecilie Hollberg ao se referir à escultura, uma das mais famosas da história da arte e que está entre as mais representativas da Renascença.
 

"A nudez é, justamente, o símbolo da pureza", explicou a diretora do museu, lamentando o que chamou de "puritanismo inapropriado". Para ela, trata-se, ainda, de um caso "bastante grave", porque demonstra que "estamos perdendo o vínculo com nossa cultura e com a História". "E pensar que, no passado, nos Jogos Olímpicos da Grécia, todos os atletas competiam nus", comentou.

Entre a História e os direitos
Símbolo da Renascença italiana, Davi foi esculpido por Michelangelo em um bloco único de mármore de Carrara, e representa o herói bíblico enquanto se prepara para enfrentar o gigante Golias. Considerado o ideal de beleza masculina, a obra está exposta na Galeria da Academia de Florença, embora uma cópia, também em mármore branco, possa ser admirada na praça da Senhoria de Florença, no centro da cidade.

"Confundir arte com pornografia é, simplesmente, ridículo", reagiu o prefeito de Florença, Dario Nardella, no Twitter. Ele anunciou que irá convidar a professora Hope Carrasquilla à cidade dos Médicis em reconhecimento ao seu trabalho, porque "quem ensina arte merece respeito", publicou no Facebook.

O representante dos pais de alunos da escola da Flórida, Barney Bishop, disse à emissora americana CNN que não foi solicitada a proibição da divulgação das imagens, uma vez que as mesmas são exibidas anualmente nas aulas de arte. Para ele, o problema é que os pais não foram informados com antecedência sobre os temas e as imagens que os filhos iriam ver, por isso a escola recebeu uma denúncia feita por um pai que considerou a imagem pornográfica.

Há um ano, a Flórida promulgou a lei de Direitos dos Pais na Educação, reforçando os direitos fundamentais dos mesmos de tomar decisões envolvendo a educação e o bem-estar de seus filhos. A política foi promovida pelo governador Ron DeSantis, adversário de Donald Trump como candidato do Partido Republicano nas eleições presidenciais de 2024 e conhecido por suas posições conservadoras.

O governo DeSantis também deseja estender a lei a todos os níveis educacionais, de forma a proibir que sejam abordados temas como orientação sexual, identidade de gênero, sexualidade e racismo.