Protesto

Governo e oposição israelenses iniciam negociação após 'pausa' na reforma judicial

Movimento paralisou hospitais, voos e outros serviços públicos

Veteranos militares israelenses agitam bandeiras nacionais durante uma manifestação contra o projeto de lei de reforma judicial do governo - Jack Guez/AFP

Os partidos governistas e a oposição israelenses iniciam, nesta terça-feira (28), um "diálogo" sobre a reforma judicial, que o primeiro-ministro conservador, Benjamin Netanyahu, pôs em "pausa" em meio à onda protestos que sacodem o país desde janeiro.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, informou em nota que vai receber às 19h30 locais (13h30 de Brasília) "as equipes de trabalho (...) na primeira reunião de diálogo em sua residência esta tarde".

Frente à proporção do movimento, que paralisou hospitais, voos e outros serviços públicos, Netanyahu anunciou, na segunda-feira, que sua reforma entrava em "pausa".

"Quando há uma possibilidade de impedir uma guerra civil mediante o diálogo, como primeiro-ministro faço uma pausa para o diálogo", declarou em um discurso televisionado.

O anúncio marcou uma reviravolta na postura do chefe de governo, que no domingo havia demitido seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, por defender a mesma decisão.

Os dois principais líderes da oposição, os centristas Yair Lapid e Benny Gantz, se disseram dispostos a dialogar sob a égide de Herzog, que há semanas propõe intermediar a crise, mas alertaram contra qualquer manobra de Netanhyahu.

Lapid afirmou que quer se assegurar de que a "pausa" não é "um truque ou uma farsa".

Os partidos dos dois dirigentes advertiram, ainda, em um comunicado conjunto, que abandonariam "imediatamente" a negociação se o governo enviasse ao Parlamento uma das medidas mais polêmicas da reforma, sobre a composição da comissão que designa os juízes.

Alguns analistas viam na iniciativa, antes de tudo, uma jogada de mestre de Netanyahu para sair de apuros.

O primeiro-ministro "soube como transformar, com palavras bonitas, uma derrota esmagadora em um empate", escreveu Nahum Bernea, editorialista do jornal Yediot Aharonot.

"Pouco importa o que diga ou faça, me parece que não tem muita confiança, nem sequer entre os milhares de manifestantes de direita de ontem", acrescentou, em alusão à primeira contramanifestação convocada na segunda-feira, em Jerusalém, pelos apoiadores da reforma.

O governo afirma que a reforma pretende reequilibrar os poderes, dando maiores atribuições ao Parlamento em detrimento da Suprema Corte, à qual considera politizada.

Seus opositores afirmam, ao contrário que essa reforma compromete a independência da justiça.

Sem voltar atrás

A crise revelou divisões profundas na coalizão cambaleante de Netanyahu, que inclui apoiadores de extrema direita e ultraortodoxos.

O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, afirmou na segunda-feira no Twitter que "não haverá volta atrás" com a reforma judicial.

Seu colega de gabinete, também de extrema direita, o ministro de Segurança Nacional Itamar Ben-Gvir, pressionou seus apoiadores a se manifestar a favor das reformas.

O partido Poder Judeu, de Ben-Gvir, revelou na segunda-feira que a decisão de adiar a legislação inclui um acordo de expandir sua pasta, depois que ameaçou renunciar se o projeto fosse paralisado.

O jornalista político Yosi Verter publicou no jornal Haaretz, de viés esquerdista, que a pausa foi "uma vitória dos manifestantes, mas quem realmente dobrou e pisoteou (o primeiro-ministro) é Itamar Ben-Gvir."

"Netanyahu saiu dessa história uma laranja espremida", segundo Verter.

A crise atingiu a imagem da coalizão frente ao público israelense três meses depois de chegar ao poder.

O partido de direita Likud, de Netanyahu, caiu sete pontos em uma pesquisa do canal 12, que previu que o governo perderia sua maioria no Parlamento de 120 assentos se fossem realizadas eleições.

Por outro lado, corriam rumores nesta terça-feira sobre uma possível restituição do ministro da Defesa demitido, que na segunda-feira elogiou "a decisão de frear o processo legislativo para conduzir um diálogo".