Novo primeiro-ministro muçulmano da Escócia destaca diversidade na política britânica
Yousaf se junta à crescente lista de políticos britânicos cujos antepassados descendem das antigas colônias
A eleição do novo primeiro-ministro da Escócia, Humza Yousaf, levanta questões sobre a independência do país prometida em sua campanha eleitoral, mas sua ascensão ao poder confirma que a diversidade étnica e religiosa está cada vez mais enraizada na política do Reino Unido.
O novo líder do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês), foi nomeado formalmente nesta terça-feira (28) como o primeiro líder muçulmano de um governo na Europa Ocidental.
Agora Yousaf se junta à crescente lista de políticos britânicos cujos antepassados descendem das antigas colônias, liderados pelo primeiro-ministro, Rishi Sunak, filho de pais indianos.
O ministro das Finanças, Jeremy Hunt, é o único branco entre os quatro "grandes chefes de Estado" da política britânica, incluindo o ministro das Relações Exteriores, James Cleverly, e a secretária do Interior, Suella Braverman.
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, também é muçulmano como Yousaf, que terá entre seus principais adversários no Parlamento regional o líder trabalhista da Escócia, Anas Sarwar, também de ascendência paquistanesa.
A Câmara escocesa agora tem "partidos liderados por duas pessoas de cor, duas pessoas de religião muçulmana", ressaltou Yosaf no mesmo dia de sua nomeação.
"E o fato de ninguém levantar a sobrancelha sobre isso me diz que estamos progredindo nesta nação, algo de que todos devemos estar muito, muito orgulhosos", completou.
Para Sunder Katwala, diretor da organização British Future, a nomeação de Yousaf reforça "até que ponto a diversidade étnica e religiosa no poder se tornou uma nova norma na política britânica".
O fato de que o rei Charles terá um primeiro-ministro hindu e um líder escocês muçulmano em sua coroação em maio envia "uma mensagem poderosa ao mundo sobre o quanto a vida pública na Grã-Bretanha mudou, em uma extensão inigualável em democracias comparáveis", enfatizou o jornal Eastern Eye.
Cristianismo em declínio
A diversidade étnica no Reino Unido já se fazia presente em 2018, quando Sajid Javid se tornou o primeiro asiático a ocupar o posto de secretário do Interior.
Assim como o pai do prefeito Khan, o de Javid era da classe trabalhadora, mas o de Yousaf é um contador de sucesso, o que o permitiu enviar seu filho a uma das escolas particulares mais exclusivas de Glasgow, a Hutchesons' Grammar, onde Sarwar também estudou.
No entanto, como muçulmanos, eles eram uma exceção e Yousaf contou ter sido vítima de racismo por seus pares, especialmente após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
"Todos devemos nos orgulhar de ter enviado hoje uma mensagem clara: que a cor da sua pele ou sua religião não são uma barreira para liderar o país que todos chamamos de lar", disse ele na segunda-feira, quando foi eleito o novo líder do SNP.
Os cristãos são agora uma minoria na Inglaterra, embora continue sendo a religião mais difundida, de acordo com o censo de 2022, seguido do grupo que se declara "sem religião", e, posteriormente, muçulmanos, hindus, sikhs, budistas e judeus.
Embora o porta-voz de Sunak tenha reforçado o desejo de trabalhar com Yousaf, garantiu que não planeja realizar um novo referendo sobre a independência da Escócia.
Já Sarwar deixou de lado qualquer relação fraterna do passado para reforçar que o Partido Trabalhista irá se posicionar sobre as acusações do SNP de negligenciar os serviços públicos escoceses para alimentar sua campanha pela secessão.
"Embora questione o seu mandato e a história do SNP, é importante refletir sobre a escolha de quem será o primeiro 'primeiro-ministro' de uma minoria étnica", frisou o líder trabalhista.