Bate-boca entre governistas e bolsonaristas interrompe audiência com Flávio Dino na Câmara
Ministro da Justiça respondia a bolsonaristas que o acusaram de "censura" por acionar o STF por fake news em relação à sua visita ao complexo de favelas da Maré
O depoimento do ministro da Justiça, Flávio Dino, à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara foi interrompido por uma briga entre parlamentares bolsonaristas e membros da base do governo, logo na primeira rodada de perguntas feitas a ele. Dino respondia a bolsonaristas por ter, de acordo com a fala dos que o interrogavam, censurado parlamentares ao acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) por fake news em relação à sua visita ao complexo de favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Bolsonaristas chegaram a dizer que Dino teria feito um acordo com traficantes da região para visitar o local, quando na verdade, o ministro havia avisado previamente às autoridades de segurança sobre o encontro com lideranças locais. Ao justificar o acionamento ao STF, Dino disse:
— Eu tenho família, não posso permitir isto, seria aceitar mentiras — disse o ministro.
O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) gritou que seria impossível entrar na localidade sem a anuência o tráfico. A deputada Carol de Toni (PL-SC) também se exaltou e interrompeu a fala do ministro dizendo que ele sabia previamente dos atos extremistas do dia 8 de janeiro. O presidente da CCJ, Rui Falcão (PT-SP), precisou interromper a fala do ministro e ordenar o desligamento dos microfones dos deputados bolsonaristas para reestabelecer a ordem no local.
Opositores aproveitaram a visita de Dino à Maré para dizer que ele entrou no local sem a companhia de seguranças, o que já foi desmentido por ele. O ministro já explicou que foi convidado para participar de um evento realizado pela organização Redes da Maré, que articula junto com órgãos governamentais em defesa dos interesses da população local, que ultrapassa 140 mil habitantes.
Em outro momento, o ministro da Justiça foi interrompido ao comentar sobre acusações sem provas contra o PT e citar ocasião da quebra de microfone do plenário da Câmara pelo parlamentar bolsonarista André Fernandes (PL-CE).
Na semana passada, André Fernandes se exaltou durante um pronunciamento na tribuna e deu um tapa no equipamento da casa. A direção da Câmara decidiu que irá cobrar o parlamentar pela quebra do equipamento, no valor de R$ 1600.
O ministro da Justiça chegou à CCJ às 14h para explicar quais ações a pasta comandada por ele adotou para evitar os ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro deste ano, entre outros temas, acompanhado pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Ele é o primeiro integrante do primeiro escalão do governo a prestar contas ao Congresso nessa legislatura.
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm tentado implicar as autoridades federais nas falhas do sistema de segurança e nas omissão de militares que permitiram às invasões ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Flávio Dino fará ainda um balanço dos seus quase três meses de gestão e apresentará algumas das medidas que sua pasta planeja implementar.