Guerra

'Meu herói', escreve menina russa a pai condenado por desenho antiguerra

Caso desse pai e de sua filha causa grande indignação na Rússia há várias semanas

Alexei Moskalyov, 54, pai solteiro de Maria Moskalyova, a menina de 13 anos que fez um desenho crítico da campanha militar de Moscou na Ucrânia na escola em abril do ano passado. - Natalia Kolesnikova/AFP

"Papai, você é meu herói", escreveu uma aluna russa de 13 anos para o seu pai, condenado a dois anos de prisão por criticar a ofensiva russa contra a Ucrânia e agora foragido, em uma carta publicada nesta quarta-feira (29).

"Te amo muito, não é culpado de nada, sempre estarei ao seu lado", escreveu Maria Moskaliova ao seu pai Alexéi Moskaliov, de 54 anos, cujo paradeiro é desconhecido desde terça-feira.

"Estou segura de que tudo correrá bem e que voltaremos a estar juntos (...) Sei que não se renderá, é forte, somos fortes (...) Rezarei por você e por nós", acrescentou.

O advogado da família, Vladimir Bilienko, que não pôde visitar Maria, confirmou à AFP a veracidade da carta.

O caso desse pai e de sua filha causa grande indignação na Rússia há várias semanas, e se tornou um símbolo da repressão contra os que se opõem à operação militar lançada há mais de um ano contra a Ucrânia.

A história se remonta ao ano passado, quando Maria fez um desenho na escola em que se vê mísseis ao lado de uma bandeira russa dirigidos contra uma mulher e uma criança ao lado da bandeira ucraniana.

A diretora da escola informou à polícia, que, por sua vez, descobriu que o pai da menina havia feito comentários contra a ofensiva nas redes sociais.

Moskaliov foi posto em prisão domiciliar em 1º de março e sua filha foi enviada a um centro de menores, onde foi proibida de falar por telefone com o pai.

A história teve uma reviravolta nesta terça, quando um tribunal de Yefrémov, a 300 km de Moscou, condenou Moskaliov a dois anos de prisão por ter "desacreditado" o exército. Pouco depois, a corte anunciou que o réu estava foragido.

Nesta quarta, o Kremlin afirmou que acompanha de perto o caso e acusou o pai de cumprir suas "obrigações parentais de maneira deplorável".

Outro julgamento vai ocorrer em 6 de abril para decidir se os direitos parentais de Moskaliov serão ou não restringidos. A mãe de Maria está separada da família.

"É o destino de uma criança que será decidido, mas isso não interessa" às autoridades, denunciou o advogado Bilienko.

Um petição que pede a devolução da menina para o pai recebeu mais de 140.000 assinaturas até agora.