De olho na sucessão de Lira na Câmara, Centrão racha em meio a "guerra de blocos"
Partidos que apoiaram a reeleição do presidente da Câmara resolveram formar bloco sem o PP
Os partidos que apoiaram a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara resolveram seguir caminhos separados e formar blocos rivais na ocupação de espaço na Casa. PSD, Republicanos, MDB e Podemos já oficializaram um bloco, que tem 142 deputados e, por enquanto, é o maior da Casa. O PP, partido de Lira, que costumava agir em sintonia com Republicanos, não está no bloco.
Para não ficar isolado, Lira procurou o União Brasil, PSDB, Cidadania, PSB e PDT para formarem um grupo com sua legenda. Juntos, os partidos representam 164 parlamentares e superariam os outros.
O tamanho dos grupos é importante porque dá força para os partidos reivindicarem relatorias de projetos importantes e presidências de comissões. O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), disse que a decisão de ficar em um bloco separado foi tomada pelo próprio PP.
— Não fomos convidados (para o bloco com Lira) — disse dirigente partidário.
O presidente da Câmara era entusiasta de formar uma federação com o União Brasil, partido formado pela fusão do DEM com o PSL. A ideia seria fortalecer as duas siglas justamente no espaço de ocupação da Casa e facilitaria, por exemplo, que o União Brasil indicasse o relator do orçamento do ano que vem. O cargo, no entanto, deve ficar com o PL. A tentativa de aliança não prosperou por divergências no comando da federação, mas os partidos já haviam anunciado que fariam parte do mesmo bloco na Câmara.
O líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA), seguiu a mesma linha do presidente do Republicanos e disse que a decisão de seguir em outro grupo foi do PP.
– O MDB, PSDB, Republicanos e Podemos não saíram do bloco original. (Os partidos) Escolheram um líder (Fabio Macedo, do Podemos-MA) e teremos rodízio de líder a cada 30 dias para que a partir daí nós possamos discutir as pautas da Casa, verificar quais são as matérias, indicar relatorias. Sempre em consonância com o presidente Arthur Lira e com o pensamento dos nossos partidos – disse.
Lira tem no União Brasil um de seus principais aliados no Congresso, o líder do partido na Casa, deputado Elmar Nascimento (BA). Os dois são amigos próximos e costumam dividir a influência na indicação de cargos e inclusive já estiveram juntos em diversas viagens pelo Brasil e exterior.
Elmar sempre quis ser presidente da Câmara e se movimenta para ser um dos candidatos à sucessão de Lira em 2025. O mesmo se aplica a Marcos Pereira. Os dois já se apresentaram como pré-candidatos em 2021, mas no final apoiaram Lira. Os dois deputados evitam falar sobre a futura disputa. Procurado, Pereira disse que o bloco não tem "nada a ver" com a sucessão na Câmara. O MDB também almeja voltar a comandar a Casa.
— Está cedo, porém a disputa sempre será saudável para o Parlamento e a democracia — disse o ex-presidente do Senado e deputado Eunício Oliveira (MDB-CE).
Ambos os lados dizem que não há um atrito entre Lira e os partidos do outro bloco. O presidente da Câmara se reuniu nesta semana com os líderes dos partidos e os parabenizou pela formação do grupo.
Apesar disso, em conversas reservadas, integrantes do bloco sem Lira reconhecem que será natural que os grupos sigam caminhos separados na próxima eleição da Casa. Eles dizem que há um compromisso com Lira, mas não necessariamente com um candidato que será apoiado por ele para comandar a Câmara daqui a dois anos.
Os parlamentares do bloco sem o PP também avaliam que o grupo terá mais unidade que os partidos que ficarão mais próximos de Lira. Eles chamam atenção para o fato de que os presidentes do PSD, Gilberto Kassab, do MDB, Baleia Rossi, do Podemos, Renata Abreu, e do Republicanos, Marcos Pereira, vivem todos em São Paulo e têm uma facilidade natural para se reunirem e fechar acordos. A mesma sintonia não é observada entre os presidentes do PP, Ciro Nogueira, do União Brasil, Luciano Bivar, e do PSDB, Eduardo Leite.