Desemprego volta a subir e atinge 8,6% em fevereiro
Alta ocorre após seis trimestres seguidos de queda, e nenhum segmento econômico abre vagas. Rendimento fica estável em R$ 2.853
A taxa de desemprego voltou a subir no trimestre encerrado em fevereiro e atingiu 8,6%. É uma alta de 0,5 ponto percentual em relação aos três meses anteriores, que servem de base de comparação. Também é maior que o índice registrado em janeiro, de 8,4%.
Assim, agora o país tem 9,224 milhões de desempregados. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta sexta-feira (31) pelo IBGE. O rendimento médio real foi estimado em R$ 2.853 e ficou estável frente ao trimestre encerrado em novembro.
Também houve queda no número de ocupados, de 1,6%. O trimestre fechou com retração de 1,6 milhão de pessoas no mercado de trabalho frente ao trimestre anterior. Com isso, o nível de ocupação, percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, chegou a 56,4%, queda de 1 ponto percentual na mesma comparação.
A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, explicou que o resultado está relacionado a um movimento sazonal, comum ao início dos anos. Segundo ela, o dado reflete a dispensa dos trabalhadores temporários contratados para as festas de fim de ano, assim como maior procura por novas vagas.
Mesmo com o aumento, a taxa é a menor para um trimestre entre dezembro e fevereiro desde 2015, quando o índice ficou em 7,5%. O pico foi registrado em 2021, quando a taxa de desemprego atingiu 14,6%.
Fernando de Holanda, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV Ibre, acrescenta que a taxa de juros mais alta, usada pelo Banco Central para controlar a inflação, serve como um freio para a atividade econômica e, consequentemente, tem reflexos no mercado de trabalho. Para ele, a tendência de queda de empregos deve se manter ao longo de todo o ano de 2023.
— Para que a política desinflacionária funcione, é necessário ter desaquecimento no mercado de trabalho. Todos os setores vão sofrer — opina Holanda. — Isso já era esperado pelo combate à inflação e porque o primeiro ano de um governo costuma ser de ajuste. Além disso, o ano passado foi atípico, com o governo tentando manter a economia aquecida com vários pacotes para aumentar a chance de reeleição.
Apostando em uma trajetória de lenta elevação do desemprego nos próximos trimestres, Claudia Moreno, economista do C6 Bank, estima que a taxa encerre 2023 perto de 9%. Para 2024, a projeção é que a taxa evolua para 9,5%.
— A gente está vendo uma dinâmica do mercado de trabalho pior, com taxa de participação caindo — comenta. — Tanto o trabalho formal, quanto informal foram afetados. Isso está muito relacionado à desaceleração macroeconômica.
Emprego informal recua e com carteira fica estável
Entre as categorias que mais perderam postos de trabalho no período estão o empregado sem carteira no setor público (-14,6% ou menos 457 mil), o empregado sem carteira assinada no setor privado (-2,6% ou menos 349 mil pessoas) e o trabalhador por conta própria com CNPJ (-4,8% ou menos 330 mil).
A população ocupada em administração pública, saúde e educação apresentou redução de 2,7% na comparação trimestral. A coordenadora da pesquisa, Adriana Beringuy, explica que é comum a dispensa de trabalhadores por contrato ao final do ano, o que reflete nos dados:
— As prefeituras usam muito contratos temporários. Professores, merendeiras, inspetores, assistentes administrativos, por exemplo, são contratados a partir de março, e muitos deles são dispensados em dezembro e janeiro para serem recontratados no ano seguinte. Isso gera um ciclo na administração pública.
O número de empregados com carteira assinada no setor privado ficou estável após seis trimestres consecutivos de crescimento significativo. O fenômeno pode ser explicado pelo desaquecimento na atividade industrial, que predominantemente costuma oferecer mais vagas formais em relação a outros setores, como o comércio.
Rodolfo Margato, economista da XP, observa que as indústrias de segmentos que produzem bens mais sensíveis a crédito, como veículos, produtos eletrônicos, eletrodomésticos e materiais de construção, vem sofrendo com a alta da taxa de juros e com o elevado índice de inadimplência entre consumidores, fatores que prejudicam financiamentos.
A força de trabalho, grupo que reúne as pessoas ocupadas e as que estão em busca de empregos, apresentou queda de 1% na comparação entre trimestres. Caso se mantivesse estável ou aumentasse, a taxa de desemprego poderia ser ainda maior, estima Margato.
Rendimento fica estável
O rendimento médio real foi estimado em R$ 2.853 e ficou estável frente ao trimestre encerrado em novembro, com crescimento de 0,6%. Nos dois últimos trimestres, o crescimento havia sido de 3%. Segundo Adriana Beringuy, a perda de fôlego pode ser explicada pela pressão inflacionária e pela presença menor de oportunidades com carteira de trabalho.
A massa de rendimento também ficou estável frente ao trimestre anterior, estimada em R$ 275,5 bilhões, crescendo 11,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Nos cálculos do economista da XP, Rodolfo Margato, os salários vinham tendo forte recuperação no segundo semestre do ano passado, com variação mensal de 0,8% acima da inflação. Nos primeiros meses de 2023, porém, houve crescimento tímido de 0,1% e 0,2%.
A deterioração do mercado de trabalho, para ele, não é severa, nem alarmante diante de um cenário de alta de juros e com crescimento de PIB estimado pela instituição em 1% neste ano.
— O mercado ainda nos parece apertado, com expectativa de taxa de desemprego em 9% ao final de 2023. Para 2024, a gente trabalha com taxa de desemprego de 9,5% — conta.