Brasil

31 de março: Forças Armadas não comemoram golpe militar pela primeira vez em cinco anos

Prática havia sido retomada entre 2019 e 2022, por ordem do então presidente

Bolsonaro orientou às Forças Armadas 'comemorações devidas' sobre o golpe de 64 - Marcos Corrêa/PR

Pela primeira vez em cinco anos, as Forças Armadas não divulgaram neste 31 de março mensagem comemorativa do golpe militar de 1964. A prática havia sido retomada, por ordem do então presidente Jair Bolsonaro. O golpe que depôs o então presidente João Goulart completa 59 anos nesta sexta-feira. Por orientação do Ministério da Defesa, as tropas foram alertadas que haveria punição em caso de qualquer tipo de celebração da data por militares da ativa, o que inclui também postagens em redes sociais.

O golpe de 1964 depôs o então presidente João Goulart e instaurou no país uma ditadura militar que durou até 1985. Foi justamente no primeiro mandato de Lula, entre 2003 e 2006, que o comando do Exército voltou a exaltar a ditadura em uma das edições da chamada “ordem do dia alusiva ao 31 de março de 1964”.

O golpe foi oficialmente removido do rol de datas comemorativas das Forças Armadas em 2011, no primeiro ano do governo Dilma. Na ocasião, o então general da ativa Augusto Heleno foi proibido de fazer uma palestra, no 21 de março, intitulada “A contrarrevolução que salvou o Brasil”. O veto foi atribuído oficialmente ao Exército.

Entre 2019 e 2022, a data foi celebrada pelos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, por meio da leitura da Ordem do Dia e de pronunciamento dos comandantes alusivos à data, o que não foi registrado hoje.

Houve comemoração entre os militares da reserva. No Rio, ocorreu o tradicional almoço no Clube Militar para comemorar o golpe. Em nota, a comissão interclubes militares declarou que a "contrarevolução" de março de 1964 pertence "à História e não à politica", alegando que houve apoio de vários segmentos da sociedade. Segundo um oficial general, a carta não tem respaldo dos militares da ativa.

A orientação do Ministério da Defesa, comandado por José Múcio Monteiro, de proibir a comemoração faz parte da estratégia do governo de despolitizar as Forças Armadas.

Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica acompanharam a chegada do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil e possíveis desdobramentos nessa quinta-feira, como manifestações, caminhadas e motociatas, o que poderia reacender os ânimos de militares alinhados.

O Comando Militar do Planalto e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) também atuaram para assegurar que a volta de Bolsonaro fosse encarada como o retorno de "de um passageiro comum dos Estados Unidos", disse um integrante do alto escalão do governo.

O clima nos quarteis também foi de tranquilidade, pois desde os ataques golpistas de 8 de janeiro, os comandantes das Forças Armadas tem lembrado às tropas sobre a função institucional dos militares e a proibição de atuação político partidária, de acordo com um oficial.