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"Bolsonaro falou muita coisa que poderia ter evitado", diz ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira

Em entrevista, senador afirma que Tarcísio e Zema são opções ao ex-presidente na corrida ao Planalto e defende nome de Michelle como vice em 2026

Ciro Nogueira - Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Expoente do Centrão e homem de confiança de Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Casa Civil e senador Ciro Nogueira (PP-PI) admite que o ex-presidente errou em declarações sobre “muitas coisas”. Em entrevista ao GLOBO, o parlamentar também defendeu o nome de Michelle Bolsonaro para candidata a vice-presidente em 2026 e pôs os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Romeu Zema (Minas Gerais) como principais alternativas caso o antigo ocupante do Palácio do Planalto fique inelegível.

Quais foram os erros cometido por Bolsonaro quando era presidente?
Algumas falas. Nós temos dois líderes políticos que falam coisas que rendem muita polêmica: o atual presidente (Lula) e o antecessor dele. Bolsonaro falou muita coisa que poderia ter evitado na época em que era presidente. Só que ele não mexia com a vida das pessoas. O Lula agora está extrapolando todas as expectativas.

Quais declarações ele deveria ter evitado?
Nós vacinamos a população e, às vezes, ele passava a imagem de que não era a favor da vacina. Eu disse uma vez: “Presidente, se o senhor se vacinar, cresce sete pontos na pesquisa”. Ele falou: “Ciro, não vou fazer isso e enganar o povo em hipótese nenhuma”. Se fosse o Lula, teria aplicado 15 vacinas no braço.

Como o senhor vê o caso das joias? Bolsonaro errou ao tentar ficar com as pedras?
É uma narrativa, uma cortina de fumaça. Espero que a investigação seja feita da forma correta, esclarecendo os fatos e sem criar falsas narrativas para atacar um homem de bem. Graças a Deus, as pessoas conhecem a simplicidade do capitão Bolsonaro. Isso não cola.

O ex-presidente disse que não vai liderar a oposição. Como vê essa decisão?
Isso não é opção dele. Ele vai liderar o processo, não tenha dúvida. Se não quer ser candidato ainda, é decisão dele, ninguém vai exigir isso. Mas só quem pode liderar o processo até lá é ele.

Ele foi muito criticado por aliados por ter deixado o país antes do fim do mandato e passado três meses nos Estados Unidos...

A minha sugestão era que ele só voltasse depois da Semana Santa. Ele merecia esse tempo de descanso, depois de quatro anos e uma disputa eleitoral.

Garante que o PP vai apoiar Bolsonaro em 2026? E o senhor?
Garanto. Apoiarei o Bolsonaro, ou quem ele apoiar.

O senhor já integrou a base de governos petistas...
Temos um campo da direita e um campo da esquerda. Sou muito mais à direita do que Bolsonaro no que diz respeito à liberalidade econômica. Não tenho tanta aproximação nessa pauta de costumes, armamentista.

Caso Bolsonaro fique inelegível, quem vai liderar a direita?
Vou ser muito franco: é mais fácil um Bolsonaro injustiçado eleger um presidente do que ele próprio ganhar em 2026. Ninguém vai admitir que um presidente, por conta de injustiça, seja tornado inelegível. Vai facilitar muito o trabalho da oposição se acontecer essa injustiça, mas espero que não aconteça.

Quem é a principal alternativa na direita?
Em política, tem fila. Os principais nomes são os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Romeu Zema (Minas Gerais), mas temos a senadora Tereza Cristina (PP-MS) e Ratinho Junior, governador do Paraná. Podem surgir outras alternativas até lá. Bolsonaro vai ser decisivo na escolha.

E a Michelle Bolsonaro?
Pode ser, quem tem título de eleitor pode ser candidato. Mas acho que a primeira-dama pode ser uma grande candidata a vice. Ela deve ser a única pessoa no país que se elege senadora nos 27 estados da federação.

O presidente da Câmara, do seu partido, tem se aproximado do governo Lula. Isso lhe causa desconforto?
É uma atribuição do cargo. Lógico que não vai ser o Arthur Lira do governo Bolsonaro. Ele tem uma dívida de gratidão pelo presidente (Lula) não ter criado obstáculo à sua reeleição.

Como avalia o governo Lula?

Falta um gestor. Nos primeiros mandatos de Lula, tínhamos o José Dirceu, o Antonio Palocci. Eram pessoas que tocavam o governo e tinham autoridade sobre o presidente. Hoje, o ministro da Casa Civil (Rui Costa) ainda não tem autoridade. Já há uma disputa aberta para ser candidato de Lula daqui a quatro anos. O ministro da Fazenda, apesar de não entender muito de economia, é inteligente, bem intencionado. Fernando Henrique tinha o mesmo perfil: não entendia de economia, mas deu certo. Hoje, há ministro querendo derrubá-lo para assumir o lugar. É o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Disputas internas por protagonismo.

O PP vai ajudar a aprovar a nova regra fiscal?
Nós fazemos uma oposição diferente do PT. Não vou sair aqui atirando, dizer que vou votar contra. Não quero é um arcabouço fiscal baseado em inflação.

O governador do Rio, Cláudio Castro, vai se filiar ao PP? Haverá um candidato a prefeito da capital?
Tem um namoro, mas ele acabou de ser eleito. Para a prefeitura, temos um pré-candidato, o Dr. Luizinho (secretário estadual de Saúde do Rio). Ele precisa ter o apoio do centro e da direita. Se saírem candidatos Luizinho e Flávio Bolsonaro, atrapalha muito.