"Há múltiplos indícios" de que Torres agiu contra eleitores de Lula no 2º turno, afirma Dino
Ministro da Justiça disse que as suspeitas são de 'imensa gravidade' e espera consequências jurídicas proporcionais
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que "há múltiplos indícios" de que o ex-comandante da pasta, Anderson Torres, agiu para dificultar a locomoção de eleitores no segundo turno a eleição presidencial, no ano passado. Em entrevista nesta terça-feira, Dino também classificou as suspeitas como fatos de "imensa gravidade" e que espera consequências jurídicas proporcionais.
Torres foi ministro durante o governo de Jair Bolsonaro. Um inquérito policial aponta que a área de inteligência do Ministério da Justiça fez um levantamento entre o primeiro e o segundo turno de 2022 que detalhou os locais onde Lula foi mais votado. Com essas informações em mãos, Torres teria ajudado a elaborar o planejamento operacional das ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que fechou estradas no Nordeste, região onde Lula tinha mais votos do que Bolsonaro, no dia de votação do segundo turno. A informação foi revelada pelo colunista Lauro Jardim.
"Desde janeiro esses indícios estão surgindo. Nesta mesma sala em que me encontro agora [no Ministério da Justiça e Segurança Pública] já houve relatos múltiplos de indícios. Não me cabe evidentemente extrair conclusões desses indícios, isso cabe ao delegado que preside o inquérito e ao Ministério Público e, posteriormente, ao Poder Judiciário. O que posso afirmar a você é que há múltiplos indícios ou de elaboração de relatórios, de viagens, de comandos, de determinações administrativas. E nós temos o indício muito eloquente, ou seja, o fato ocorreu no dia 31 de outubro, quando houve essas ditas operações atípicas" afirmo Dino em entrevista para o canal do Youtube do professor Marco Antonio Villa.
A declaração de Dino começa a partir dos 7 minutos.
Em seguida, Dino argumenta que a soma desses indícios podem constituir prova contra Anderson Torres.
"A soma desses indícios faz com que eu me lembre de uma nota de rodapé de um livro muito conhecido no mundo do Direito, do professor Hely Lopes Meirelles. Ele diz assim: 'Indícios vários e concordantes constituem prova'. Então é mais ou menos terreno que nós estamos" afirmou o ministro.
Dino acrescentou que esses "múltiplos indícios" são convergentes e são fatos graves, uma vez que representariam a atuação direta do Governo Federal para interferir no processo eleitoral.
"Vamos aguardar o término das apurações da Polícia Federal visto que constitui um fato de imensa gravidade, porque isso significa um engendramento estatal, governamental, para tentar fraudar uma eleição. Então evidentemente o conjunto do sistema judicial brasileiro vai em algum momento apreciar esses indícios e extrair consequências, que espero que sejam proporcionais, inclusive para garantir que em eleições vindouras esse tipo de artifício não se faça presente" finalizou Dino.