Talibãs proíbem afegãs de trabalhar para ONU em todo o país
O Ministério da Economia afegão anunciou que as 1.260 ONGs que operam no país foram proibidas de empregar mulheres afegãs
Os talibãs emitiram uma "ordem" proibindo que as mulheres afegãs empregadas na ONU trabalhem em qualquer parte do Afeganistão, anunciou, nesta terça-feira (4), o porta-voz da organização internacional, denunciando uma decisão "inaceitável e francamente inconcebível".
"Disseram-nos, através de diferentes canais, que a proibição se aplica a todo o país", destacou o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric.
A missão da organização no Afeganistão (Unama) "teve conhecimento de uma ordem das autoridades "de fato" que proíbe as funcionárias nacionais da ONU de trabalhar" e "nos disseram, por diferentes canais, que a proibição se aplica a todo o país", acrescentou Dujarric.
Horas antes, a Unama havia indicado que as funcionárias afegãs, que até agora estavam isentas dessas restrições, tinham sido impedidas de trabalhar na província de Nangarhar, no leste do Afeganistão.
Ao assinalar que não recebeu uma ordem por escrito nesta etapa, Dujarric argumentou que os funcionários da ONU se reuniriam com as autoridades em Cabul na quarta-feira para tentar obter "clareza" sobre a determinação.
"Para o secretário-geral [António Guterres], tal proibição seria inaceitável e francamente inconcebível", acrescentou, denunciando a "tendência recente e perturbadora de minar as capacidades das organizações humanitárias para ajudar quem mais precisa".
Em 24 de dezembro de 2022, o Ministério da Economia afegão anunciou que as 1.260 ONGs que operam no país foram proibidas de empregar mulheres afegãs devido a "graves queixas" sobre o descumprimento do uso do hijab.
Após o anúncio, várias ONGs suspenderam todas as suas operações em protesto, o que aumentou ainda mais a miséria dos 38 milhões de cidadãos do Afeganistão.
Depois de dias de discussões, houve um acerto para que as mulheres que trabalham no setor de assistência sanitária estariam isentas do decreto. O pessoal da ONU, por sua vez, jamais tinha sido afetado por essa proibição.
Entretanto, durante um discurso no Conselho de Segurança da ONU em 8 de março, quando se comemorava o Dia Internacional da Mulher, a chefe da Unama, Rosa Otunbayeva, já havia manifestado preocupação de que o talibã poderia estender essa proibição ao pessoal feminino da ONU.
Nesta terça, a Unama expressou, em seu perfil no Twitter, "séria preocupação" com a medida do governo talibã e lembrou para as autoridades "que as entidades das Nações Unidas não podem operar e oferecer assistência vital sem pessoal feminino".
Desde que voltou ao poder em agosto de 2021, o talibã proibiu as adolescentes de frequentarem o ensino médio, as mulheres foram banidas de muitas funções e serviços governamentais, foram impedidas de viajar sem estarem acompanhadas por um parente do sexo masculino, e foram obrigadas a se cobrir fora de casa, de preferência com uma burca.