Bolsonaro não usará direito de ficar calado e depõe em delegacia alvo de ataques em dezembro
Ex-presidente deve chegar por volta das 13h30 acompanhado de dois advogados e da ex-primeira dama
De volta ao Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro presta depoimento nesta quarta-feira em Brasília. Ele será ouvido no inquérito que apura a destinação de presentes dados por autoridades estrangeiras ao Estado brasileiro. De acordo com a colunista Malu Gaspar, Bolsonaro adiantou o horário da oitiva, e deve chegar às 13h30m, uma hora antes do combinado, à sede da PF. Pessoas próximas ao ex-titular do Palácio do Planalto afirmam que ele irá acompanhado de dois advogados e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O ex-presidente não pretende lançar mão do direito de ficar em silêncio, mas, sim, responder as perguntas dos policiais.
O local do depoimento será a sede a Polícia Federal, alvo de ataques em dezembro de 2022. No dia 12 daquele mês, bolsonaristas tentaram invadir o espaço e atearam fogo em carros que estavam estacionados do lado de fora. À época, os acampamentos ainda estavam na capital federal e outras cidades país afora. Inconformados com a prisão do indígena José Tsere Xavante, apoiador do ex-presidente, os manifestantes também queimaram ônibus e caçambas de lixo no entorno do prédio naquela ocasião.
Há expectativa de que aliados do ex-titular do Palácio do Planalto convoquem a militância para comparecer ao local em que ele será ouvido. Parlamentares ligados a Bolsonaro dizem que vão convocar apoiadores dele para marcar presença nas proximidades da PF, numa tentativa de demonstrar força.
Mais de 50 homens da Polícia Militar do Distrito Federal e uma tropa de 10 agentes do COT (Comando de Operações Táticas) da Polícia Federal foram destacados para se posicionarem no entorno do prédio, com escudos, coletes e armas de efeito moral. Nesta quarta-feira, a área do estacionamento, onde o quebra-quebra havia começado, foi totalmente isolada.
Horários iguais
Bolsonaro será ouvido no mesmo horário que outros personagens envolvidos no caso das joias. O Globo apurou que ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid, o assessor Marcelo Câmara e o ex-chefe da Receita Federal Julio Cesar Gomes também vão prestar depoimento à PF em Brasília a partir das 14h30.
A PF instaurou um inquérito após o jornal "O Estado de S. Paulo" revelar que uma comitiva do governo, liderada pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentou trazer ao Brasil em outubro de 2020 com um conjunto de joias, avaliadas em R$ 16,5milhões, que não foram declarados à Receita. Ele havia viajado à Arábia Saudita para representar Bolsonaro. O material foi dado de presente por autoridades daquele país ao Estado Brasileiro e, como não haviam sido declarados ao Fisco, foram retidos na alfândega do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Na ocasião, Bento Albuquerque teria argumentado aos servidores da Receita que as joias seriam dadas a Michelle Bolsonaro. O próprio ex-presidente já admitiu que pretendia ficar com os bens. Antes de deixar o poder, Bolsonaro incorporou ao seu acervo pessoal um segundo pacote de joias composto por relógio caneta, anel abotoaduras e um masbaha. O presente também foi trazido ao Brasil pela comitiva liderada pelo ex-ministro Bento Albuquerque — e não foi declarado à Receita. Após analisar o caso, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução tanto desse pacote quanto do outro avaliado em R$ 16,5 milhões, pois não poderiam se considerados itens personalíssimos devido ao alto valor.
Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo revelou a existência de um relógio da marca Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes, ofertado pelos sauditas a Bolsonaro durante uma viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita, entre os dias 28 e 30 de outubro de 2019. Na ocasião, o então presidente participou de um almoço com o rei Salman Bin Abdulaziz Al Saud. No mês seguinte, o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência incorporou os bens ao acervo privado de Bolsonaro. O terceiro conjunto de joias do regime da Arábia Saudita, avaliado em cerca de R$ 500 mil, foi entregue ontem à Caixa Econômica Federal, em Brasília.