Reforma, crise e economia sob pressão: FMI começa reuniões com agenda cheia
Aumentos constantes das taxas de juros colocam os países de baixa renda mais perto do risco de uma crise da dívida
As reuniões da primavera (hemisfério norte, outono no Brasil) do FMI e do Banco Mundial (BM) começam na quinta-feira (13), após a publicação, na terça-feira, das previsões de crescimento mundial, em meio a múltiplas crises e a uma economia sob pressão.
O relatório de Perspectivas da Economia Mundial (WEO, em sua sigla em inglês) dará o pontapé inicial às reuniões na sede dos dois organismos em Washington, mas a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, já deu um panorama dos números, com um crescimento econômico mundial abaixo de 3% este ano.
Não há surpresa: já na última atualização de perspectivas, em janeiro, o FMI previa um crescimento de 2,9%. No final de março, o Banco Mundial se mostrou ainda mais pessimista, com a previsão de uma expansão de atividade de 2,2% anual, em média, até 2030, a década mais fraca em mais de 40 anos.
"O crescimento mundial deve ser fraco este ano, de 2%", afirmou nesta segunda o presidente do Banco Mundial em final de mandato, David Malpass, durante uma teleconferência de imprensa. Ao mesmo tempo, a estimativa para 2023 também é de leve alta, já que, em janeiro, o banco previa 1,7% para o ano em curso.
São os prognósticos a longo prazo que se mostram, no entanto, mais negativos: o FMI prevê que o crescimento econômico mundial não vai superar uma média anual de 3% até 2028.
É "nossa perspectiva mais fraca a médio prazo desde 1990", afirmou Georgieva.
Trata-se de uma desaceleração importante quando o mundo enfrenta uma série de desafios sem precedentes, entre as consequências do aquecimento global, os riscos de fragmentação do comércio mundial por razões geopolíticas e a eventualidade de uma crise de dívida generalizada.
Para enfrentar estes desafios, muitos países — entre eles a maior potência mundial, Estados Unidos — reclamam uma reforma das instituições financeiras internacionais (IFI).
Em entrevista à AFP, a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, lembrou que "deseja uma reforma das tarefas" destes organismos, em particular do Banco Mundial e suas filiais, para acrescentar o fomento da "resiliência ante as mudanças climáticas, as pandemias e os conflitos como missões centrais".
"Desejamos realizar outras reformas durante o resto do ano. Esta será parte das negociações durante as próximas reuniões do FMI, assim como das reuniões anuais do FMI e do BM no Marrocos", em outubro próximo, acrescentou Yellen.
Mais países vulneráveis
Esta evolução deveria começar pelo bancos regionais de investimento e pelo próprio BM, sob a direção de seu próximo presidente, que será certamente o americano Ajay Banga, candidato único.
São mudanças que deveriam ocorrer rapidamente: a transição ecológica dos países emergentes e de baixa renda requer no mínimo um bilhão de dólares por ano, afirmou Kristalina Georgieva, soma essa de que as IFI não dispõem atualmente para distribuir.
Será necessário que "nossos membros mais ricos ajudem a preencher as lacunas" na arrecadação de fundos, insistiu.
Banga quer envolver o setor privado se chegar à direção do BM.
Durante as reuniões de primavera no hemisfério norte, também estará presente o tema das recentes turbulências do setor bancário e o risco de desestabilização do setor financeiro, caso a luta contra a inflação leve os bancos centrais a subirem ainda mais suas taxas de juros.
Malpass lembrou os "riscos a longo prazo provocados pela defasagem existente entre os ativos com taxa zero da última década e os dos últimos meses, após a alta das taxas", uma situação que requer tempo para ser "digerida" em um contexto de inflação persistente e dólar fraco.
Baixar a inflação é a prioridade, insistiu Georgieva na quinta-feira, acrescentando que os bancos centrais "devem fazer mais para garantir a estabilidade financeira".
Aumentos constantes das taxas de juros colocam os países de baixa renda mais perto do risco de uma crise da dívida. Já é o caso em 15% deles, afirmou a titular do FMI, e outros 40% podem enfrentar este problema.