Recife

Julgamento no Recife: "Estão desconfigurando toda a imagem de Patrícia", diz irmão da vítima

O irmão da vítima, Fernando José Araújo Vanderlei, afirmou que a defesa de Guilherme José Lira dos Santos está "desconfigurando toda a imagem dela [Patrícia] como mãe e como a guardiã da casa"

Irmão de Patrícia Cristiane Araújo, Fernando José Araújo Vanderlei - Arthur de Souza/ Folha de Pernambuco

Após o final do segundo dia de julgamento de Guilherme José Lira dos Santos, acusado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) de jogar o carro em árvore e matar a ex-esposa, Patrícia Cristiane Araújo, no Recife, o irmão da vítima, Fernando José Araújo Vanderlei, afirmou que a defesa do réu está “desconfigurando toda a imagem dela [Patrícia] como mãe e como a guardiã da casa”.  

De acordo com Fernando, 41, Patrícia era uma inspiração de vida para ele, e por isso, seguiu a mesma profissão da irmã. Atualmente, ele é gerente de tecnologia da informação.  

"A minha irmã tinha um problema de depressão e um descontrole das contas, e estão falando que ele [Guilherme] foi o grande provedor da família, uma construção em pleno século 21 conservadora para dizer que ele é o provedor da família, que ele não poderia fazer feminicídio. Ele pode ser o melhor pai do mundo, o melhor homem do mundo, mas, se ele a matou nos últimos segundos, ele é assassino", afirmou Fernando.  

Ele acredita que o julgamento está tendo uma boa condução por parte do MPPE.  

“A gente está muito confiante no júri, muito confiante que a justiça vai ser feita. A gente tem uma expectativa enquanto família, mas é decepcionante ver o quanto eles além de matarem a minha irmã, agora querem difamá-la. Isso é lastimável”, disse.

"Estamos muito confiantes, a gente tem visto que a justiça tem feito um bom trabalho, e isso não vai trazer a minha irmã de volta, mas não é mais por Patrícia, são pelas próximas mulheres, pelas próximas Patrícias, pelos próximos Guilhermes que são maridos muitos bons, que pagam contas, que controlam contas e que matam suas mulheres", acrescentou.  

Sobre o depoimento da filha do casal, de 16 anos, que ocorreu na tarde desta terça-feira (11), Fernando destacou que a família ficou muito triste pelos filhos terem sido chamados pela defesa.
  
A filha do casal é um dos dois informantes - que não prestam compromisso de dizer a verdade -. O segundo informante é o outro filho do casal, Pedro Vanderlei de Lira Santos, de 18 anos. Ambos foram arrolados pela defesa.

"A palavra é tristeza porque chamar uma menina de 16 anos que ainda está entendendo, que ainda está digerindo que perdeu a mãe. E ela está perdida, completamente perdida no discurso. A palavra da família da mãe é tristeza", relatou Fernando.  

Apesar de não ter presenciado brigas entre Guilherme e Patrícia, o irmão reiterou que acompanhou os relatos apreensivos da irmã no final do relacionamento.  

"Não presenciei brigas, mas acompanhei, no final do relacionamento. Há vários relatos da minha irmã dizendo que não estava nada bem e que precisava de ajuda e que queria trocar a fechadura de casa, porque ele tinha invadido a casa dela. Então, me dói bastante saber que tudo desaba na minha frente depois que ela morre, porque eu não tinha consciência do que se passava", pontuou Fernando. 

Filhos deveriam ter sido poupados
A promotora do MPPE, Dalva Cabral, destacou que o arrolamento para depoimento dos filhos do casal foi realizado pela defesa e que ambos deveriam ter sido poupados neste momento

“O depoimento da filha foi extremamente emocionante. A gente até pontua que foi um informante, os dois são informantes arrolados pela defesa, porque o Ministério Público teve que fazer perguntas para esclarecer, mas eles poderiam ter sido poupados neste momento. Essa é nossa opinião”, disse a promotora. 

De acordo com a promotora, os filhos do casal não têm conhecimento da prova do processo

“Eles foram poupados o tempo todo da verdadeira relação que havia entre os pais, então o que vão trazer aqui é como era o pai Guilherme, como era a mãe Patrícia no dia a dia. Mas sobre o processo, a circustância do acidente, do assassinato, eles desconhecem”, destacou. 

Promotora do MPPE, Dalva Cabral. Foto: Arthur de Souza/ Folha de Pernambuco

“O que a gente percebe é que nada foi informado do fato ocorrido no dia 4 de novembro de 2018, sem filtros. Ali se conta a versão provavelmente sustentada pela defesa. Mas o que a gente pode dizer, e é elogiável, é que a família da mãe, cuja guarda [dos filhos] é da avó materna, tem preservado os meninos de qualquer tipo de alienação. Eles têm muito respeito pelo pai, hoje a filha coloca isso aqui. E o importante é que a Patrícia já morreu, a gente agora vai buscar justiça para ela. Mas é preservar a integridade psicológica dessas crianças, que a gente espera que não seja ameaçada pela família paterna”, acrescentou.  

O júri popular acontece na 1ª Vara do Tribunal do Júri Popular da Capital, no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, em Ilha Joana Bezerra, na capital pernambucana. O julgamento segue nesta quarta-feira (12), a partir das 9h